A cada virada de humor dos mercados, com a piora dos indicadores e da percepção de risco, o título acima costuma ser lembrado. Nas últimas semanas, uma conjugação de fatores adversos contribuiu para isto. Poderíamos citar vários, como o “esgarçamento” na relação entre governo e Congresso, o esforço concentrado para a aprovação das medidas fiscais do ministro Levy, muito “fogo amigo” por parte de grupos do PT e do PMDB, partido do desafeto presidente da Câmara, Eduardo Cunha, indicadores econômicos em deterioração, como os observados na tabela ao fim, etc. Lembremos também de alguns fatos externos, como o impasse grego e a trajetória de queda das commodities.
Histórico – Usamos este termo “tempestade perfeita” na análise dos fatores de risco entre 2013 e 2014, detonados pela possível elevação da taxa de juros pelo Fed, depois do fim da política de estímulos monetária (QE3), conhecida como Quantitative Easing, e a possibilidade de rebaixamento do “risco soberano” do país. Este último, inclusive, acabou ocorrendo em março de 2014, pela Standard & Poor’s, mas não causando tanta celeuma. Este é o ponto. A “tempestade perfeita” só se materializa se conjugada por “uma série de fatores em sinergia”.
Retornando – Nestes dois primeiros meses do segundo governo Dilma, consideramos que o país atravessa algo parecido, também denominado pelo economista do Itaú, Ilan Goldfajn, como “turbulência perfeita”. Quando não faltava mais nada, a Petrobras acabou mais uma vez rebaixada, se tornando especulative grade, o que gerou uma série de conjecturas sobre o fato do risco soberano do Brasil ser “o próximo da fila”. Não seria surpresa. Ainda somos investment grade, mas na avaliação da Standard & Poor’s nas portas de sermos rebaixados a junky bonds. Neste, os encargos para captação externa se elevariam consideravelmente, assim como o ingresso de recursos oriundos de fundos institucionais acabaria bem menor.
Na visão da imprensa internacional, as coisas por aqui não andam nada boas. O jornal londrino já expôs dez motivos para a presidente sofrer impeachment. Já a revista inglesa “The Economist”, notória por estampar capas diferenciadas, publicou na edição latino-americana desta semana uma matéria mostrando na capa o desenho de uma mulata de escola de samba tentando sair do lodaçal de um pântano. Na matéria, intitulada “Brasil no atoleiro” (Brasil’s Quagmire) foi dito que “a economia brasileira esta uma bagunça, com problemas muito maiores do que o governo admite e os investidores parecem perceber”.
Por que chegamos a tal estado? Indagação complicada de responder em poucas linhas, mas seguramente foi causada no primeiro mandato da presidente Dilma por uma série de decisões mal tomadas de política econômica e de voluntaristas e desastradas ações, principalmente, na área fiscal, comentadas ad nauseum por este espaço.
Indicadores em desalinho– Como resultado, a percepção de risco do Brasil segue em deterioração. O “risco país”, em torno de 210 pontos básicos em meados de 2014, já passa de 320 pontos e pode ir a 400 no médio prazo. Outra variável importante é a taxa de câmbio, R$ 2,65 ao fim de dezembro de 2014 e R$ 2,88 atualmente, não sendo surpresa se passar de R$ 3,00 no futuro próximo. Somado a isto, a inflação já foi a 7,3% e é possível que passe de 8,0%, com o realinhamento tarifário em curso, sendo o reajuste estimado de energia elétrica acima de 40%. Não podemos esquecer também dos riscos de repasse do câmbio depreciado sobre os preços finais, acima de 8,5% desde dezembro, além dos vários choques que sempre acontecem no ano (agrícolas).
Este mesmo câmbio depreciado ainda não conseguiu turbinar a balança comercial neste ano. Em dois meses, o déficit foi a US$ 6,2 bilhões, superando o registrado em 2014, com os exportadores retraídos pela volatilidade da moeda norte-americana, além dos ruídos gerados pelo governo. Neste cenário, o déficit em conta corrente se encontrava estacionado em US$ 90 bilhões em janeiro passado, 4,2% do PIB, impactado pela balança comercial negativa e o déficit de serviços, devido ao excesso de viagens internacionais da nossa classe média.
No que se refere à atividade econômica não conseguimos enxergar também o “fim do túnel”. A economia segue empacada, pela insegurança e perda de confiança dos empresários, alto endividamento das famílias e forte queda dos investimentos, pelo lado do governo tendo recuado 35,4% em janeiro passado, contra o mesmo mês de 2014. Em complemento, a arrecadação federal também se mostra em queda, 5,4% menor contra dezembro de 2014, não mostrando sinais de reação, dada sua aderência ao nível de renda da economia.
Uma boa notícia neste turbilhão de negatividades parece ter sido o desempenho fiscal de janeiro. O saldo primário foi positivo em R$ 10,4 bilhões pelo lado do governo central, elevado a R$ 21,1 bilhões pelo consolidado. Este melhor resultado, aliás, veio junto com uma série de medidas fiscais, como a elevação das alíquotas na desoneração da folha de pagamento de 56 setores da indústria, pensadas para compensar esta baixa arrecadação do ano, já perdido. Estimativas desta Consultoria para este ano indicam retração de até 1% do PIB, com o consumo empacado, assim como os investimentos e o desempenho do setor externo.
Por fim, cabe comentar sobre a taxa de juros, revisada a 12,75% no fechamento deste ano, não sendo surpresa se passar a 13%. Na decisão do Copom desta semana, dias 3 e 4/3, a taxa de juros, a 12,25%, deve ser elevada em 0,5 ponto percentual, a 12,75%, e assim permanecer por algum tempo, com o BACEN observando a resposta da economia para então sancionar (ou não) novas alterações.
Concluindo– Atravessamos um período delicado, mas ainda confiantes que o competente ministro Joaquim Levy nos tire deste atoleiro. Depois da tempestade vem a bonança. Que as últimas notícias negativas tenham cessado na semana passada.
*Para registro – O termo “tempestade perfeita” teve origem numa tempestade ocorrida nos EUA em 1991, quando uma sucessão de fatores climáticos em simultâneo se abateu sobre a Costa Leste, causando consideráveis estragos e prejuízo de US$ 200 milhões. Lembremos também do filme e do livro “Andrea Gail”, nome de um navio pesqueiro afundado por este evento.
No Comment! Be the first one.