Brasília. Final de outubro. O sol insistia em brilhar na capital federal. As nuvens tinham ficado para trás juntamente com uma campanha dura e disputada. Agora era hora de curtir o momento, planejar o governo seguinte e olhar para os próximos quatro anos. A batalha estava vencida. As nuvens tinham ficado para trás.
O novo período, entretanto, não anunciava um céu de brigadeiro. A briga por cargos começava a tomar forma e os ajustes, que não poderiam ser implementados durante a campanha, começavam a se impor. Algo precisava ser feito. Recolhida na solidão do poder, ela começava a traçar um intricado caminho. Diante de si o desafio de desviar das nuvens pesadas.
O sol estava pleno no começo do ano quando a faixa presidencial, recolocada em si mesma, repousou em seu corpo. O time escolhido não era o preferido, mas talvez acreditasse que o seu estilo gerencial pudesse dar rumo ao mosaico de forças que agora formava seu ministério. Na capital, o sol se impunha, mas a preocupação era a falta de chuva, especialmente em São Paulo.
[su_quote]Os juros aumentaram, a bolsa despencou, o dólar disparou e os primeiros sinais de trovoadas começaram a ser ouvidos em nossa capital[/su_quote]
Recolhida em uma dieta que lhe afinou a silhueta durante o mês de janeiro, seu ministro da Fazenda promovia o mesmo regime nas contas públicas, chegando inclusive além da gordura, atingindo os direitos trabalhistas. A lipoaspiração, contudo, não chegou na corrupção. O principal combustível da oposição vinha dos reajustes. O cardápio, como sempre, era vasto: energia, gasolina, insumos. Aumento de impostos, reajustes de alíquotas, corte de benefícios. Chovia em São Paulo. O alívio de um lado era preocupação de outro, já que algumas nuvens pesadas começavam a se formar em Brasília.
Na política, o cenário não era animador. Trovões vieram do outro lado da Praça dos Três Poderes quando o Planalto viu seu grande desafeto vencer a eleição para o comando da Câmara dos Deputados. A hostilidade e as trapalhadas palacianas seriam retribuídas. Enquanto isso, uma massa de ar quente se deslocava em avanço contínuo e firme para o Planalto Central. Vinha do Paraná.
No Planalto pairava uma massa de ar frio. Nada estava fora do lugar, mas a meteorologia ensina: o choque entre ambas causa nevoeiro, chuva e queda de temperatura. Foi o que vimos. Uma lista vinda de Curitiba e discutida no principal gabinete da República era o sinal claro disso. Mais uma trapalhada foi gestada com o vazamento de alguns nomes, o que causou ira no parlamento. Veio mais um troco. A terra tremeu e a garoa começou.
Os juros aumentaram, a bolsa despencou, o dólar disparou e os primeiros sinais de trovoadas começaram a ser ouvidos em nossa capital. É preciso lembrar que umidade e ar ascendente nem sempre formam tempestades. Para isso ocorrer, o ar precisa estar instável. No entanto, é exatamente o que começa a se formar hoje em Brasília, uma massa de ar instável e pesada, alimentada por uma economia cambaleante, um governo claudicante e um parlamento ferido.
No intuito de dissipar os relâmpagos, veio um pronunciamento diante da nação. Aquilo que acalmaria o tempo, trouxe ventos fortes que fizeram soar panelas e vaias. Pelo Brasil inteiro tempestades isoladas começaram a surgir. Um clima de instabilidade se disseminou e fortes chuvas de insatisfação popular devem tomar as principais cidades brasileiras no próximo domingo.
O céu de brigadeiro sumiu. Nuvens carregadas chegaram. A tempestade perfeita, a união de uma economia fraca e povo insatisfeito, somadas a uma crise de autoridade moral e governabilidade, começa a se formar, assim como foi visto em 1992. Naquela época, em meio a uma tempestade foi impedido um furacão. Dissipar estas nuvens pesadas é nosso dever. O Brasil mais uma vez está diante de tempos difíceis.
Fonte: blog Diários da Política, 23/3/2015
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