Iniciamos janeiro e vai se delineando melhor o que teremos pela frente e os principais desafios a serem enfrentados. Destes, três despontam no horizonte como decisivos: a decisão do TRF-4 em Porto Alegre no dia 24/1, sobre o destino do ex-presidente Lula da Silva, a votação da PEC da Reforma da Previdência no dia 19/2 e depois, as eleições de outubro.
Sobre o TRF-4, com certeza o PT tentará “politizar” ao máximo o julgamento e confirmando-se a sentença em primeira para segunda instância contra o ex-presidente, deve gerar certa volatilidade nos mercados.
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Interessante observar, no entanto, que neste início de ano o mercado vem operando em bom rally de alta, com a bolsa de valores, até 4/1 em oito altas seguidas, testando o patamar de 78,5 mil pontos. Já o dólar em seguidas quedas, já atingia R$ 3,23, havendo dúvidas, no entanto, sobre a sustentabilidade deste ciclo. Podemos ver pelo gráfico a seguir esta relação inversa entre o desempenho da bolsa e a cotação da moeda norte-americana. Demonstra-se a partir daí, que boa parte do bom desempenho da bolsa vem sendo “alimentada” pelo apetite dos investidores externos, que voltaram a confiar no País. O giro diário de negócios da bolsa se mantinha por estes dias em torno de R$ 9 bilhões, com importante contribuição destes investidores.
Importante considerar, por outro lado, que este movimento de alta doméstica vem ocorrendo nos vários mercados globais, como o japonês e o norte-americano, todos rompendo suas máximas históricas.
No Brasil, parte desta “euforia” de mercado vem sendo possível em função do recesso parlamentar e do Judiciário, dando certa trégua às instituições. Em fevereiro, com a retomada de trabalho nestes poderes, ainda mais com a agenda apertada da PEC da Previdência, tudo deve começar a virar. Os riscos neste front são bem concretos, já que o número de votos para passar esta PEC é de 308 e o governo parece longe desta meta.
Para piorar, a S&P em comunicado, já deixou no ar a possibilidade de rebaixamento do risco soberano do País, mesmo neste ano de eleições. Estas, inclusive, ameaçam ser as mais disputadas dos últimos anos, desde 1989, quando da eleição de Collor de Mello.
Isso posto, caso Lula acabe afastado, inevitável será um redesenho da corrida eleitoral, com novos participantes, tanto pela esquerda, como pela direita e centro. Neste último, as expectativas estariam no lançamento de Henrique Meirelles, boatos sobre Rodrigo Maia, pelo DEM, entre outros. Na esquerda, Ciro Gomes e Maria Silva surgiriam como alternativas, e na direita, mais radical, teríamos ainda o populista Jair Bolsonaro. Esta, aliás, seria uma preocupação na campanha, tentar gerar um ambiente em que candidatos propositivos ganhassem espaço frente aos populistas (que pregam apenas soluções fáceis, visando o voto das camadas mais baixas da sociedade).
Na economia, olhando para os três principais “sinais vitais”, inflação, juro e câmbio, alguma volatilidade pode ocorrer pelo lado do câmbio, a inflação, talvez venha um pouco mais elevada, pelo crescimento maior da economia, e o juro mantendo uma trajetória cadente, podendo fechar em torno de 6,75% ou 6,50%.
Na inflação, o IPCA fechou 2017 em torno de 2,8% (dado sai no dia 10) e deve registrar algo em torno de 4% neste ano. Decisivo nesta queda do ano passado foi a deflação dos alimentos, em 12 meses até novembro recuando 5,3%, mas não devendo repetir neste ano. A safra mais fraca, 10% menor, deve contribuir. Por outro lado, nas tarifas de energia e no preço da gasolina novos focos de pressão são previstos. Na energia, as estiagens de 2017 devem cobrar sua conta em 2018, com o uso mais intensivo de termoelétricas, o que encarece no seu custo, predominando mais nas contas deste ano a tal bandeira vermelha em dois níveis. Em média, os reajustes, calculados pelas distribuidoras, podem ficar entre 10% e 15%, ou acima disso.
Sobre o preço da gasolina, a forte demanda global, com o mundo crescendo mais, puxado pelos desenvolvidos, como EUA e a China, esta sempre acima de 6%, deve manter o patamar do barril acima de US$ 65, o que levará a Petrobras a seguidos reajustes.
No caso do câmbio, as tensões políticas com as eleições darão sua contribuição para volatilizar a moeda norte-americana, mas também o que deve acontecer nos EUA, com os efeitos do pacote fiscal, maior crescimento, talvez inflação, pelo PCE, acima de 2,0% (centro da meta) e ritmo de ajustes do juro, pelo Fed, mais intensos. Devemos estar atentos também ao grande volume de captações externas por empresas brasileiras, a possibilidade de mais IPOs neste ano, com grande participação de estrangeiros, o ingresso crescente de investimentos diretos e por fim, o aumento de remessas de lucros por multinacionais, decorrente da melhoria da economia. Neste cenário, mantemos a previsão de taxa de câmbio em R$ 3,40 ao fim deste ano, mas sempre passível de novas correções.
Por fim, com inflação a 4% e economia crescendo ainda em ritmo lento, o BACEN vê espaço para a taxa Selic continuar em tendência de recuo, a 6,75% ao fim deste ano, até porque são poucos os focos de pressão inflacionária mais relevantes e a capacidade ociosa ainda é considerável no setor empresarial.
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