É cada vez mais difícil a tarefa de enxergar uma luz no fim do túnel, dado o momento conturbado (político e econômico) que vivemos. Pode ser a luz de uma saída, uma solução, como também um “trem desgovernado em direção contrária e alta velocidade”. Infelizmente, pendemos mais para esta segunda hipótese. Tudo conspira contra. A crise é econômica, mas derivada da incapacidade política da presidente de articular com o Congresso, assim como pelos erros de gestão no primeiro mandato.
Neste front, o clima continua o mais envenenado possível. Neste final de semana aconteceu mais uma onda de manifestações pelo país e pela sua dimensão foi possível “medir” qual o futuro da presidente Dilma, sua governabilidade e até conjecturas sobre sua renúncia ou impeachment. Não achamos que o impeachment tenha se fortalecido, até porque exigência de dois terços nas duas casas, Câmara e Senado, podem esvaziá-lo, mas como a presidente terminará seu mandato?
Claro que em reação a estas “ameaças” se fez presente por estes dias, mostrando grande capacidade de articulação (em especial, do PT) a convocação dos chamados “movimentos sociais”. Isto, aliás, torna cautelosa a avaliação de que o impeachment seria algo rápido ou indolor. Pelo contrário, correríamos o risco de um racha na sociedade brasileira, uma crise institucional profunda e o fantasma da experiência venezuelana rondando.
Além disto, nesta semana foram várias as articulações visando tentar reequilibrar o governo, como na criação de uma “agenda positiva”, “elaborada” pelo presidente do Senado Renan Calheiros, este mesmo que havia travado uma importante pauta do ministro Levy, há alguns meses atrás, sobre desoneração da folha de pagamento. Neste caso, alguma barganha política acabou realizada entre a presidente e Calheiros, no objetivo, sobretudo, de poupá-lo do “constrangimento” da Operação Lava-Jato, em troca de apoio, além de isolar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Este continua nas suas articulações em torno das “pautas-bombas”, como no caso da MP que equaliza salários de várias categorias em carreiras de Estado, o que deve gerar um rombo nas contas públicas de R$ 9,9 bilhões.
O fato é que neste ambiente altamente nocivo politicamente, o cenário econômico acaba cada vez mais turvo, gerando paralisia nas decisões dos agentes e uma série de corolários sobre o desempenho da economia e seus principais indicadores. A recessão já é uma realidade e já se fala em retração de 2,5% neste ano e no próximo (-0,5%). Isto, inclusive, pode ser visto nas Pesquisas de Sondagem de Confiança da FGV, todas em rápida deterioração nos últimos meses. Como podemos observar no gráfico a seguir, até julho deste ano o índice de Confiança do Consumidor despencou 14%, contra mesmo período de 2014, a Confiança do Comércio -17%, da Indústria -18%, dos Serviços -22% e da Construção -26%. Ou seja, o governo Dilma está na bacia das almas em termos de credibilidade, se refletindo, inclusive, em recentes pesquisas de popularidade (apoio de apenas 7%, menos até do que no governo Collor).
Confirmando este baixo astral, além do ritmo da economia despencar ladeira abaixo, a inflação ameaça passar de 10%, a taxa de câmbio se mantém esticada em torno de R$ 3,50, e a taxa de juros, elevada a 14,25% neste ano, devendo se manter neste patamar até dezembro, visando reduzir os impactos sobre a atividade econômica.
Sobre a trajetória da taxa de câmbio, chegou a mais de R$ 3,50 por estes dias, devido à crise política, mas também por dois eventos em simultâneo: o rebaixamento pela Moody’s do nosso “risco soberano”, algo já “precificado” pelo mercado, e os movimentos de depreciação da moeda chinesa.
[su_quote]O fato é que neste ambiente altamente nocivo politicamente, o cenário econômico acaba cada vez mais turvo[/su_quote]
O primeiro acabou “relativizado” pelo fato da agência ter definido a perspectiva como estável, o que deve afastar, por ora, o risco de rebaixamento a grau especulativo nos próximos seis meses. No segundo, a moeda chinesa, o yuan, acabou desvalorizada na semana passada em torno de 3,0%, mas sem tendência definida. Pouco se pode afirmar se esta foi uma nova estratégia de gerenciamento cambial do BACEN chinês, não mais baseada na fixação de uma cotação central e uma faixa de variação de 2%, ou apenas um “movimento isolado”. Muitos se apressam em afirmar que pode ser o primeiro passo para um ciclo de depreciações cambiais, acima de 10%, visando estimular as exportações e mover a economia chinesa, em clara desaceleração. Em 2014, o PIB chinês cresceu 7,4%, mas neste ano não deve passar de 7% e em 2016 em torno de 6,5%. Nada, por enquanto, podemos assegurar sobre estes movimentos do BACEN chinês.
Uma interpretação, ainda que parcial, é que este fato poderia provocar uma onda de deflações ao redor do mundo, por outras moedas se valorizando em resposta, como no caso do dólar, o que derrubaria ainda mais a inflação norte-americana, já distante da meta de 2%. Isto pode levar o Fed a adiar o ciclo de alta da taxa de juros, não mais agora em setembro. Isto acabaria servindo para uma trégua da nossa taxa de câmbio neste momento, mas pouco se pode garantir, visto que o câmbio no Brasil vem sendo afetado também pelo tenso ambiente político doméstico.
Já se tem uma depreciação cambial que passa de 30% no ano, uma preocupação a mais para o BACEN, tanto na rolagem de swaps, como no balizamento da taxa de juros. Na última ata disse que a taxa de juros básica seria mantida estável num “período suficientemente prolongado de tempo”, em 14,25%, desde que a inflação não se desviasse da meta em 2016. Como o câmbio se depreciou forte (em julho, 9,4% pelo Ptax) não será tanta surpresa se o BACEN acabar elevando ainda mais a taxa.
Nas últimas semanas, o BACEN vem rolando integralmente seus vencimentos de contratos de swap. Ao fim de 2014 este estoque equivalia a US$ 110 bilhões, atualmente estaria em torno US$ 104 bilhões. Diante das apostas recentes contrárias do câmbio, o BACEN vem respondendo que possui reservas cambiais suficientes, em torno de US$ 366 bilhões, e contratos de swaps.
Na semana passada, muito se comentou sobre a possibilidade de operações à vista, ou seja, em venda spot da moeda norte-americana. Isto em parte se justificaria, pois vem ocorrendo também um grande movimento de fuga de recursos, dado o clima político complicado. Pelo saldo cambial, no segmento financeiro, em maio saíram US$ 5,56 bilhões, em junho US$ 7,62 bilhões e em julho US$ 8,37 bilhões.
O BACEN, no entanto, continua confiando que esta crise deve começar a se dissipar nos próximos meses, reduzindo a pressão sobre a taxa de câmbio e o mercado cambial. Difícil ter esta certeza. Nossa projeção para este ano é de câmbio a R$ 3,40 e em 2016 a R$ 3,50, em linha com a pesquisa Focus. No mercado, já existem os que estimam a taxa de câmbio, entre R$ 3,60 e R$ 3,80 (e até R$ 4,00), retratando bem o clima de instabilidade existente no país.
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