Uma semana intensa em que o foco das atenções esteve voltado para a divulgação da ata do Copom
Nesta semana, o Banco Central (Bacen) se mostrou cauteloso, preocupado com o cenário global, confiando na retomada da economia doméstica mas atento ao comportamento da inflação, resistente e em patamar elevado. Afirmou, no entanto, que irá aguardar os efeitos da desoneração da cesta básica para decidir o que fazer nas próximas reuniões do Copom. Sendo assim, continuará a estratégia, comunicada na reunião da semana anterior, de se basear nos indicadores que forem divulgados, no que chamamos de data dependente, para saber que rumo adotar. Afirmou, também, que os preços dos itens “alimentação e bebidas” e dos “serviços” seguem em trajetória preocupante. Em 12 meses, como observado no gráfico abaixo, o primeiro fechou em torno de 12,5% e o segundo em 8,8%. O primeiro, decorrente de problemas climáticos, o segundo, de um mercado de trabalho apertado, com ganhos de renda refletindo numa maior demanda por melhores serviços.
Para piorar a inflação vem se mostrando disseminada, com o índice de difusão já em 75%, isto é, refletindo uma alta generalizada dos preços, e não mais localizada, como antes se prognosticava com os choques agrícolas ao longo de 2012. Sendo assim, o risco maior é o IPCA de 6,3% nos 12 meses, se acomodar neste patamar, sendo de difícil reversão nos próximos meses e ultrapassando o teto do sistema de metas (6,5%), abalando ainda mais a credibilidade do Bacen. No gráfico a seguir, observamos os preços dos bens não comercializáveis em trajetória de alta, 9,1% nos 12 meses, elevando os preços livres (7,8%). Neste contexto, mesmo que não tenhamos uma elevação do juro na reunião do Copom em abril, reforçando o tom cauteloso, será inevitável uma elevação nas reuniões seguintes.
Devemos destacar também que estas deverão ser em “conta-gotas”, com duas elevações simbólicas de 0,25 ponto percentual, até a taxa Selic fechar 2013 em 7,75%. É importante salientar que estas são importantes, na ancoragem das expectativas, por tentar mostrar uma postura mais técnica e independente do Bacen frente aos boatos de ingerência por parte da Fazenda e da Presidente. Sendo assim, nossa opinião é de que esta elevação do juro, mais simbólica do que efetiva, será benéfica para o mercado, num esforço de reconquistar a credibilidade abalada nas ações anteriores. Além disto, o Bacen, com isto, pretende não abortar a retomada da economia, por alguns indicadores, em pleno andamento.
Sobre a desoneração da cesta básica, estimativas iniciais apontavam um recuo próximo entre 0,4 e 0,6 ponto percentual sobre o IPCA para este ano, com este acontecendo apenas de uma vez, no que os economistas chamam de once and for all. Isto significa que esta medida só deve ter efeito no curto prazo, em março e em abril. No entanto, notícias recentes mostram um efeito contrário, com muitos preços sendo desonerados elevados. Isto nos leva acreditar numa recomposição de margens ou no fato da cadeia produtiva do setor de alimentos ser muito variada e longa, com alguns fabricantes, que não receberam esta desoneração, como nos elos anteriores aos setores de açúcar, café e soja, resistindo a reduzir preços. Ou seja, estes fabricantes pagam PIS e Confins quando compram as matérias primas, mas não podem utilizar estes créditos nas suas vendas ao varejo. Observa-se então este embate entre alguns setores da indústria e do varejo. Sobre isto, muitos, inclusive, acham que estas medidas, a exemplo do ocorrido nos distantes anos 80, são contraproducentes, pelos agentes sempre adotarem uma postura defensiva, antecipando elevações de preço diante das intervenções do governo. Para piorar, nos próximos meses, além dos choques de oferta usuais, cogita-se uma elevação da gasolina em torno de 5/6%, com o intuito de capitalizar a Petrobras, em crise de confiança por parte dos investidores, além do reajuste já previsto, em junho, dos transportes coletivos no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Sobre as ações recentes do Bacen, no ciclo de redução da taxa de juros desde agosto de 2011 em 5,25 pontos percentuais – de 12,5% para os atuais 7,25% -, observamos, em estudo recente, divulgado pelo FMI, que a taxa de juros real se encontra bem abaixo da chamada taxa real neutra da economia, qual seja, aquela que tenta equilibrar a inflação com o ritmo da economia. Segundo este estudo, a taxa neutra aqui no Brasil estaria em torno de 3,5% a 5,5% e a taxa de juros real hoje entre 1,5% e 2,0%. Em outras palavras, a política monetária brasileira tem sido excessivamente expansionista, contribuindo para o atual gap entre demanda e oferta e o horizonte atual de ameaças inflacionárias.
Isto, inclusive, pode ser visto pelo desempenho do comércio varejista e da indústria, pelo gráfico a seguir, formando a chamada “boca do jacaré”, com o primeiro se expandindo e o segundo recuando fortemente. Como observado no gráfico a seguir, em 12 meses, até janeiro de 2013, a indústria recuou 1,9% e o varejo avançou 8,3%. Ou seja, a economia brasileira, crescendo pífios 0,9% em 2012, foi impulsionada basicamente pelo consumo das famílias, com as empresas atrasando seus investimentos, receosas pelo cenário externo, os ruídos gerados pelo governo e pela invasão de importados. Sem sombra de dúvidas tivemos problema de insuficiência de oferta, mas também de excesso de demanda.
Sobre estes indicadores de atividade, uma boa notícia na semana passada veio com o desempenho do IBC-Br em janeiro, avançando 1,3% contra dezembro e 3,8% contra o mesmo mês do ano passado. Como este indicador é uma espécie de prévia do Bacen sobre o ritmo da economia não deixa de ser um alento. Ressaltemos, no entanto, que este desempenho, impulsionado pela indústria e o comércio, foi decorrente de fatores localizados, com a indústria automobilística, destacando caminhões pesados, registrando forte recuperação contra uma base de comparação enviesada, já que este segmento parou no mesmo mês do ano passado, com as mudanças de motor, para os menos poluentes.
Concluindo, o que observamos na condução da política monetária do governo Dilma vem sendo um processo permanente de “tateamento no escuro”, de tentativa e erro, tentando decifrar como estimular a economia e como o mercado reagiria a certas medidas da autoridade. Continuamos reforçando nossa opinião de que o governo se encontra meio desorientado sobre as suas ações, mudando-as de forma muito abrupta, ao sabor dos ventos. Neste sentido, previsibilidade e transparência são essenciais para que uma retomada da economia se consolide sustentada pelo retorno dos investimentos. Sobre estes, demandas por crédito do BNDES, bom desempenho dos setores antecedentes, como papel e embalagens, e avanços nas concessões, podem ser indicativos de retomada. Isto porque parece claro a todos, que o início de um ciclo sustentável de crescimento só será possível se impulsionado pelos investimentos em infraestrutura e ampliação de plantas. Por enquanto, estes, no agregado, se encontram em patamar muito baixo, em torno de 18% do PIB em 2012. Para haver um crescimento mais robusto, acima de 4%, só com a Formação Bruta de Capital Fixo, que recuou 4,5% em 2012, crescendo mais de 8% neste ano, para que este patamar fique em torno de 20% do PIB.
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