A violência chegou ao limite do suportável em uma sociedade democrática nessas manifestações utilizadas pelos black blocs como pretexto para suas atuações terroristas. O desprezo pela vida humana está implícito na atitude irresponsável de atirar um rojão em direção a adversários, pois qualquer pessoa normal sabe que não é possível soltar um artefato com esse teor de destruição em uma manifestação pública sem correr o risco de matar alguém, como aconteceu no caso trágico do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade.
Todo manifestante que participa dessas passeatas com a intenção de direcionar um artefato desses – um sinalizador, um rojão – contra alguém, seja policial, seja um jornalista, é um assassino em potencial. A atitude pode ser considerada um ato de terrorismo.
É preciso que a sociedade entenda isso perfeitamente: os black blocs, que têm na violência a maneira de se manifestar contra as instituições ou as grandes corporações capitalistas, assumem o risco de ferir gravemente ou até mesmo de matar, uma atitude inaceitável em uma democracia, onde quem tem o direito ao uso da força é apenas a polícia.
Com muito treinamento e com armas que, pelo menos na teoria, não provoquem danos como os causados pelo rojão. A sociedade exige, além do mais, que a polícia não exorbite desse poder de uso da força que lhe é concedido, e está sempre atenta a denunciar quando isso acontece. Sempre que a polícia age fora dos padrões exigidos em uma democracia, a imprensa é a primeira a denunciar os desvios e a cobrar punições.
Todos os que participam de ações terroristas estão assumindo o risco de um assassinato, que afinal aconteceu. Manifestações contra ou a favor de alguém ou alguma coisa são próprias da democracia, mas dentro da lei e da ordem. Do jeito que estão sendo feitas desde junho, com uma escalada de violência, não é aceitável de maneira alguma.
A atuação da imprensa vem sendo constrangida desde o início das manifestações por esses terroristas, que atacam indiscriminadamente os membros do que denominam de “mídia tradicional”. A tal ponto que jornalistas já não podem sair para trabalhar com suas identificações, pois se tornam alvos de ações terroristas.
A situação chegou a tal ponto que o fotógrafo do GLOBO que flagrou toda a cena do atentado que culminou na morte do cinegrafista não quis ser identificado como autor das fotos que possibilitaram a identificação dos criminosos.
O mesmo aconteceu com o cinegrafista da TV Brasil que filmou a cena.
Em qualquer lugar do mundo, correspondentes de guerra usam coletes com identificação de que são jornalistas para serem respeitados pelas partes em disputa, sob a proteção da ONU. Nas manifestações no Brasil desde junho, identificar-se como jornalista, de qualquer empresa, é um risco, não uma proteção. Com o agravante de que não estamos em guerra.
Não importa se desta vez a intenção não era acertar o cinegrafista, mas os policiais que estavam mais adiante. A ação terrorista foi consumada, e suas consequências têm que ser punidas rigorosamente.
O caráter terrorista da ação dos black blocs contra a imprensa é revelado pela ameaça feita em frente à delegacia onde estava o primeiro culpado preso, Fábio Raposo, que, aliás, já havia sido detido em outras ocasiões por distúrbios em passeatas do gênero.
Um de seus companheiros de vandalismo estava lá tentando criar um clima contra a prisão quando se virou para outro cinegrafista, por sinal da mesma TV Bandeirantes, e ameaçou: “O próximo vai ser você”. O cinegrafista reagiu à ameaça, e acabaram os dois se atracando, com o black bloc levando um corte na testa.
Pelo relato do acontecido, vê-se que o ambiente político está totalmente desequilibrado, graças a setores da sociedade e partidos políticos que avalizam as agressões dos black blocs como manifestações legítimas, quando elas são a negação da democracia.
Fonte: O Globo, 11/02/2014
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