O advento do Coronavírus (Covid-19) mudará o curso dos acontecimentos mundiais. Após anos de êxitos sucessivos, estamos aprendendo que o capitalismo globalizado traz consigo o risco de doenças exponenciais. Com a interligação dos mercados e a livre circulação das pessoas, as vias de contaminação se tornaram difusas, plurais e geométricas, possibilitando que um germe letal ganhe, em instantes, as fronteiras do mundo. Nesse contexto, a continuidade da marcha civilizatória exigirá mandatórios standards de saúde pública, higiene pessoal e políticas sanitárias unificadas. A regra será reta e imperativa: se adequar ou sair para as margens do retrocesso econômico.
Ora, estourada a bomba viral, resta o desafio interno de superar a pandemia sem a destruição do setor econômico.
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Sim, em que pese polêmicas, as práticas temporárias de distanciamento social são absolutamente necessárias. Isso porque, além de desconhecermos a dinâmica da doença, os índices de contágio podem variar por questões ambientais e variáveis climáticas, sendo possível que populações sejam mais resistentes, enquanto outras, mais vulneráveis. Logo, é fundamental compreender o comportamento patológico no Brasil, viabilizando, assim, a melhor organização e estruturação do sistema de saúde, a partir de dados concretos de nossa realidade social.
Mas não basta apenas o afastamento interpessoal; precisamos de investimentos extraordinários para a superação de déficits estruturais urgentes. Objetivamente, temos que comprar milhões de máquinas de testes rápidos. Aliás, tais equipamentos, frisa-se, já deveriam estar aqui, através de coordenada e preventiva ação nacional de saúde pública.
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Sobre o ponto, a bem sucedida estratégia alemã é paradigmática: a melhor forma de combater o descontrole epidemiológico é a testagem populacional massiva, permitindo o tratamento imediato dos doentes, o controle evolutivo patológico e o cogente isolamento social dos infectados de forma a conter a explosão do contágio. Ato contínuo, os testes em massa, em um futuro não tão distante, permitirão um retorno seguro e gradual da atividade econômica sem riscos desmedidos.
Embora difícil, o atual momento de clausura é necessário. Se queremos realmente a retomada da atividade econômica de forma célere, bem como a efetiva proteção da vida, é necessário investir verticalmente na compra massiva de testes rápidos horizontais. Ainda faltam respiradores e equipamentos básicos de proteção aos profissionais da saúde. O tempo urge e o dinheiro é escasso. Hora, portanto, de nos unirmos em prol das decisões urgentes e inadiáveis. Depois, quando a tempestade passar, superaremos, democraticamente, as diferenças menores.
Vamos juntos porque a causa é nossa!
Fonte: “Opinião e Crítica”, 01/04/2020