Cientistas sociais se esforçam para entender como agem os populistas e sua ascensão ao poder ao redor do globo. Barry Eichengreen ensina que o populismo é multi-facetado e distinguem-se também populistas de esquerda, críticos à elite, e de direita, críticos às minorias que seriam responsáveis pelas dificuldades enfrentadas por grupos dominantes.
Algumas características prevalecem no populismo, com ser “anti” várias coisas e acreditar em um salvador, propondo soluções simplistas e contraproducentes aos problemas, e com pouco apego a recomendações técnicas. Atacam políticos tradicionais, que são vistos como corruptos ou dominados por uma elite que conspira contra o bem-comum. Preferem a democracia direta à representativa. Demonstram independência e personalidade marcante, com discurso politicamente incorreto, como forma de mostrar seriedade de propósitos e de convencimento. O uso de novas mídias faz parte do pacote para driblar o establishment. Nas décadas de 1920-30, foi o rádio. Antes disso, na eleição de 1896 nos EUA, foi o telégrafo.
Para Eichengreen populistas emergem em situação de insegurança econômica, não pelo quadro econômico passado, mas pela falta de perspectiva de grupos que se sentem desamparados, deixados para trás.
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O discurso de Jair Bolsonaro reúne características populistas, mas não de um populista tradicional, pois não é direcionado às classes mais populares. Ele contou mais com o voto da elite e é este grupo que melhor avalia seu governo, apesar do recuo desde janeiro. Para quem ganha mais de 5 salários mínimos, a aprovação está em 45%, com queda de 22%, segundo o Ibope. Os eleitores de renda mais baixa, de até 2 salários, por sua vez, estão reduzindo a aprovação do governo mais rapidamente: está na casa de 30%, com recuo de mais de 32%. Um possível populista pouco popular.
Difícil mudar este quadro à luz da frágil economia, sendo que o estilo de governar de Bolsonaro não ajuda na recuperação. Além do discurso anti-política e o compromisso frouxo com reformas, a cizânia entre os diferentes grupos no governo reduz o foco na agenda econômica. As pautas extremistas nos costumes e na segurança contraria o perfil de centro do Congresso e da sociedade, contaminando a pauta legislativa. O resultado é o difícil avanço das matérias no Congresso e a indefinição da agenda econômica.
As incertezas na política ceifam a confiança do setor privado. Há uma decepção para aqueles que acreditavam que, passada a eleição, contratações e projetos de investimento seriam destravados, pela melhora da confiança. Esta, no entanto, se esvai no lento avanço na agenda de reformas.
Há um cheiro de recessão no ar. Novas revisões para baixo nas projeções de crescimento do PIB, agora em 1,5%, estão praticamente contratadas. Como sempre, quem puxa o movimento é a produção industrial, que ensaia uma tendência de queda.
Falar em crescimento lento da indústria este ano parece otimismo, e sua fraqueza contamina os demais setores e o emprego.
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O País sofre com a ausência de motores de curto e longo prazo para puxar o crescimento. No curto prazo, soma-se à incerteza política o limitado espaço (se é que ele existe) para políticas anticíclicas, como a expansão de gastos públicos e o corte dos juros pelo Banco Central. No longo prazo, os conhecidos gargalos limitam o potencial de crescimento.
Diferentemente do que teme parcela despreparada e inconsequente da oposição, a reforma da Previdência nem irá gerar folga de recursos para gastar – irá apenas conter o crescimento da despesa -, nem irá produzir grande impulso ao crescimento e popularidade ao presidente. Pelo contrário. Vale citar que a pesquisa Ibope revelou que 73% dos entrevistados discordam de que as pessoas devem se aposentar mais tarde por estarem vivendo mais.
A aprovação do governo poderá cair bastante. A reação de Bolsonaro, mais nas ações e menos na retórica, será o teste se o presidente é de fato populista ou não.
Fonte: “Estadão”, 09/05/2019