A morte da Dama de Ferro me leva a algumas considerações no dia seguinte do ocorrido. Expoente maior do liberalismo radical, Thatcher conseguiu dar um choque de modernidade no organismo esclerosado que era a Inglaterra dos anos 70. Não há dúvida que suas políticas foram duríssimas e às vezes desumanas, como na repressão à força bruta das greves dos mineiros de carvão. As minas eram um dos mais anacrônicos elementos da economia britânica e seus trabalhadores lutaram até o fim para manter seus empregos, mas Thatcher não vacilou por um instante. Esta determinação vinha do caráter de ícone do passado que eram as minas de carvão estatizadas que ela queria superar. Mesmo em face da oposição de alguns próceres do seu partido, como Harold MacMillan, ex-primeiro ministro e líder muito respeitado. Este disse-lhe que não poderia vir a ordenar o ataque implacável aos mineiros pois havia visto pessoalmente como eles haviam sacrificado suas vidas com abandono nas trincheiras da Primeira Guerra.
Thatcher foi a última a conduzir uma política liberal e anti-estatista, como a que praticou na década de 80. Na Europa – e provavelmente no mundo- tal receita seria intolerável para qualquer eleitorado, pois excluía considerações prioritariamente sociais. Mas a líder ora falecida era oriunda de família modesta, de baixa classe média e não, como pudesse parecer, de algum berço aristocrático menos sensível aos problemas do povo britânico. A nação fora levada pelo Partido Trabalhista, sobretudo, a um tal desvario de nacionalizações e socializações que tinha-se transformado em uma economia jurássica, sem produtividade e incapaz de competir globalmente. Esse mérito não se pode tirar de Margaret Thatcher, goste-se dela ou não. Era uma pessoa com uma visão inaceitável hoje por seu radicalismo, mas que contribuiu decisivamente para fazer da Grã Bretanha um país moderno e competitivo.
Fonte: O Globo
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