Para Walter Schalka, presidente da Suzano, votar nulo ou branco é inaceitável e, se não há candidato bom, é preciso escolher o “menos pior”. Ele não abre seu voto. Prefere falar sobre uma agenda para o País que envolva reformas, equilíbrio fiscal e foco em investimentos em áreas como educação. Essa é a ideia do movimento “Você Muda o Brasil”, capitaneado por ele e um grupo de empresários e executivos como Luiza Helena Trajano (Magazine Luiza), Jefferson De Paula (ArcelorMittal) e Paulo Kakinoff (Gol), e que realiza hoje em São Paulo um evento para debater os rumos do País.
Na visão de Schalka, mudar o Brasil passa por cortar privilégios ao empresariado, com a redução drástica de isenções fiscais. “Todos querem transformar o Brasil num lugar melhor, desde que seu quinhão seja mantido. A conta não fecha. As pessoas vão ter de abrir mão de direitos, principalmente as classes mais altas.”
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Estadão – O que esperam alcançar?
Walter Schalka – Na visão do “Você muda o Brasil”, não existe engajamento adequado das pessoas em ações pragmáticas para transformar o País. Os brasileiros estão inconformados, mas viraram espectadores. Nos isentamos da participação porque tínhamos outros afazeres ou achávamos que não era responsabilidade nossa. O Estado foi perdendo eficiência, o nível do serviço é abaixo do esperado. A única forma de transformar o País é investir em questões fundamentais, como ética e educação. A ideia é criar um movimento para engajarmos a sociedade e sermos protagonistas nesse processo. Nosso movimento é absolutamente apartidário. Não tem relação com partido ou com candidatos.
Estadão – Mas está sendo lançado em plena corrida eleitoral.
Walter Schalka – É de propósito. A eleição é oportunidade fundamental para as pessoas escolherem o que querem do Brasil. Não pode chegar no dia da eleição e votar nulo ou branco porque “nada que está lá me representa”. Temos de escolher os melhores. Se não houver quem seja bom, votar no menos pior.
Estadão – Ao defender reformas, vocês não direcionam o debate para determinado espectro político?
Walter Schalka – Cada um de nós (empresários que capitaneiam o movimento) tem preferências políticas. São visões semelhantes, mas com alternativas políticas diferentes. Estamos falando de pensar no País como um todo. Não é uma agenda pró-negócios, é uma agenda pró-Brasil. Queremos atacar questões fundamentais. Uma delas é o tamanho do Estado e o equilíbrio fiscal. Outra a questão da educação e da distribuição de renda. Todo mundo quer transformar o Brasil num lugar melhor, desde que seu quinhão seja mantido. Essa conta não fecha. As pessoas terão de abrir mão de direitos, principalmente as classes mais altas.
Estadão – Qual a parte dos empresários?
Walter Schalka – Falando como Walter Schalka e não como movimento: temos de reduzir brutalmente os subsídios fiscais para empresários, que chegam a R$ 300 bilhões por ano. Outro dia vi discussão sobre subsídio para a indústria de refrigerante. Qual o benefício que isso traz para a sociedade? Há um monte e penduricalho na legislação, protegendo um monte de gente, e o empresariado também quer a proteção dele. Isso tem de ser eliminado. Tivemos um passado patrimonialista e precisamos acabar com isso, gerar um Brasil mais competitivo, expor as empresas à competição. Podemos falar também disso do lado sindical e diversos lugares onde o corporativismo está instalado. Qual outro País tem tabela de frete?
Estadão – Empresários, como Salim Mattar, da Localiza, e Sebastião Bomfim, da Centauro, declararam voto. O sr. vê como positivo?
Walter Schalka – Louvo os que têm a coragem e a determinação de manifestar seu voto publicamente. Estava inclinado a declarar o meu, mas, além de minha responsabilidade como cidadão, tenho a minha como executivo. Não sou acionista. Falar que o candidato tal é melhor pode afetar a condução dos negócios. Por isso, optei por, neste momento, não abrir meu voto.
Estadão – O sr. mantém a visão de que a retomada dos investimentos virá após a eleição?
Walter Schalka – Essa visão infelizmente está em xeque, porque estamos indo para um processo de polarização no processo eleitoral, que é inibidor do investimento. Enquanto não tivermos um processo de aglutinação de ideias, obviamente com ideologias um pouco diferentes, isso vai gerar percepção de que é melhor postergar o investimento. E a volta do crescimento só vai acontecer com investimento. Isso de nós contra eles é muito ruim. Temos de buscar as melhores ideias. Espero que isso seja revertido até a eleição. Se qualquer um dos lados da polarização ganhar, será muito ruim para o Brasil.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”