Estive, há poucos dias, num evento organizado pela Fundação Lemann, reunindo três grupos de atores relevantes para garantir melhorias na aprendizagem no Brasil: secretários municipais de Educação de diferentes partes do país, professores e diretores de escolas que se distinguem por boas práticas, organizados em núcleos presentes em todos os estados, e educadores voltados à inovação. Os três tiveram, no encontro de fim de semana, momentos coletivos, favorecendo o diálogo entre eles e ocasiões em que estavam só entre pares, trocando ideias e partilhando experiências.
Nos momentos coletivos, houve algumas palestras, como a de James Lieberman, que falou sobre o acompanhamento de desempenho escolar na reforma educacional de Nova York e sobre como se construir um processo de transformação centrado em dados. A de Cristián Cox, acadêmico que coordenou a elaboração do currículo do Chile, que falou sobre educação para a democracia, ou a de dois professores finalistas do Global Teacher Prize, uma da Jamaica, docente de ensino técnico, e outro do Quênia, que usa a dança como estratégia pedagógica.
Houve também uma roda de conversa com o ministro da Educação, que foi entrevistado, entre outros, por professores, ativistas da inclusão e da promoção de maior equidade.
Mas o momento mais rico foi a fala da Diva Guimarães, professora negra aposentada do Paraná, que, ao relatar sua experiência como aluna e, depois, como docente, preferiu não se vitimizar e mostrar que educação pública de qualidade, bons mestres (sim, pois ela contou sobre sua vivência com professores não empáticos e que não apostam nos estudantes) e uma ética de esforço podem mudar destinos.
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Percorrendo o local do evento, aproveitei para conversar com vários grupos de professores, organizados numa rede chamada Conectando os Saberes. Em todos eles, senti a mesma atitude da Diva: não se vitimizar. Professor bom, decodifiquei do que eles me diziam, é aquele que tem orgulho de suas práticas e aposta em cada aluno, mesmo que suas condições de trabalho apresentem desafios que cabe aos gestores públicos enfrentar.
Tive a mesma conversa, lá em Embu, com secretários municipais e entendi o motivo que os destaca da média. Todos mencionaram a importância de um currículo claro, materiais curriculares para apoiar o professor, monitoramento constante da aprendizagem e um bom sistema de reforço escolar.
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Mas o que têm em comum estes bons gestores? Obsessão pela aprendizagem em alto nível para todos os alunos, sem exclusões, e capacidade de operar de forma vigorosa e efetiva o processo de transformação necessária.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 30/11/2018