A ansiedade é inegável. Está estampada no rosto da presidente, na vibração das palavras do ministro Mantega, o nosso “levantador de PIB”, e ressoa, incessantemente, nas manchetes dos jornais. “O modelo de crescimento se esgotou.” “O governo busca medidas para destravar o investimento.” “A equipe econômica prepara planos de contingência para uma eventual saída desordenada da Grécia do euro.”
É novidade a premissa de que o país tenha tido um “modelo de crescimento” que se “esgotou”. Um “modelo” pressupõe uma estratégia, um plano de médio prazo. Como tê-lo se o governo está, desde 2009, atiçando e apagando incêndios? Acende, apaga. Liga, desliga. Acelera, freia. Isso não é “modelo”. Isso é tatear no escuro, conduzir a política econômica de olhos vendados. Afinal, o cenário externo não tem permitido enxergar além do próprio umbigo.
Se o umbigo é o limite de alcance da visão, como as firmas irão investir? É razoável acreditar no retorno do investimento privado em meio às incertezas europeias? Retorno, sim, pois se enganam aqueles que acreditam que a economia brasileira cresceu apenas impulsionada pelo consumo. Isso não foi verdade nem no conturbado período do pós-crise, entre 2009 e 2011, quando o investimento se expandiu, em média, uns 7%, e o consumo, 5%. O investimento caiu em 2011. Porém a queda não adveio de “modelo” algum, e, sim, dos gargalos da economia brasileira, somados aos choques sucessivos que vitimaram a economia global: o desastre japonês, que desarticulou as redes de manufatura globais; o drama fiscal americano, que culminou na perda da classificação AAA; o agravamento da crise bancária/fiscal europeia, que forçou o Banco Central Europeu (BCE) a prover € 1 trilhão em poucos meses para o sistema financeiro.
Após o breve alívio proporcionado pelas ações do BCE, o torvelinho europeu voltou revigorado. Não me refiro à Grécia. Salvo um surto ensandecido de inépcia dos líderes europeus e dos políticos gregos, a Grécia dificilmente sairá do euro agora. Não, o problema não é a Grécia. O verdadeiro terror, o cenário catastrófico que ninguém sabe mapear, é a derrocada da Espanha, com seus bancos arrebentados pelas dívidas imobiliárias, com a hemorragia econômica e fiscal que não será estancada com medidas paliativas. Para atenuar os problemas espanhóis, será preciso muito dinheiro do BCE e muita boa vontade dos alemães.
Para “salvar” o euro perante uma ameaça ibérica, será necessário convergir, na marra, para a tal união fiscal que, por enquanto, os alemães querem evitar. Não será possível “ganhar tempo” para a Espanha. O tempo se esgotou.
Mas o consumo brasileiro, não. Diante da gravidade do cenário internacional, é bastante razoável que o governo brasileiro trate de seus próprios interesses, que ajude as famílias a se desalavancarem mais rapidamente, facilitando o refinanciamento das dívidas contraídas, reduzindo os juros e estimulando o crédito. A densa nebulosidade do cenário internacional não permite alternativas. Por ora, não há estômago empresarial que permita levantar os olhos do próprio umbigo – o ministro da Fazenda não conseguirá essa façanha.
Para os ansiosos, uma péssima notícia. Se o gerenciamento da crise europeia falhar, se ocorrer a temida ruptura por canais que ainda não conhecemos muito bem, o Brasil provavelmente não conseguirá alcançar o mesmo desempenho de 2009, isto é, não será possível atenuar o baque na atividade com o halterofilismo do ministro. A razão é simples: não poderemos contar com os esteroides dos estímulos sincronizados dos outros países que, à época, fortaleceram a nossa musculatura. Os países avançados não têm mais espaço fiscal para impulsionar suas economias. E a China tem desequilíbrios em demasia para anunciar um pacote de medidas tão vultoso quanto o que fez em 2009.
Diante disso, é fácil compreender as razões da dificuldade de concentração do governo, a irritabilidade dos analistas, a agitação dos jornais. São sintomas do chamado transtorno de ansiedade generalizada. Um benzodiazepínico seria recomendável.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 01/06/2012
Refinanciar é como apostar no cavalo sabidamente perdedor!
Adam Smith, escreveu que o estudo da economia só faz sentido se o resultado dele acrescentar algo de útil para a sociedade. O Galbraith ironiza, no A Era Da Incerteza, dizendo que tal ideia apavora os economistas contemporâneos.
O Delfin fala: “jornalista de economia”, nem uma coisa nem outra” O texto não é da lavra da brilhante economista e professora que Mônica é, mas da jornalista incidental, que tem que seguir pauta.