Os mercados deram uma trégua momentânea esta semana. Isso nos permite buscar explicação diferente para tal otimismo. Sentadas na cabine de comando da nave planetária, lá estão três mulheres de fibra, num ambiente até então povoado pelo sexo frágil: os homens.
Ganhamos força e objetividade com a maior presença feminina, sem qualquer preconceito, mas registrando a atitude mais circunspecta e prudente das mulheres perante problemas complexos como os encarados pelo mundo.
Será que estou descobrindo virtudes especiais onde só há coincidências? Talvez. Mas o fato é que Christine Lagarde, a nova condutora do FMI – o poderoso Fundo Monetário Internacional, antes representado pelo, digamos, “afoito” Strauss-Khan – começou a mudar a cara da instituição, num discurso em Jackson Hole, semana passada.
Ela resolveu afirmar alto o que os banqueiros centrais, com certa razão (masculina?) odeiam admitir em público: que os bancos na Europa têm um grave problema de capitalização e precisam de urgente injeção de capital. É uma declaração normalmente temerária para bancos.
Houve protestos e desmentidos do Banco Central Europeu. Contudo, a declaração supostamente desastrosa, de fato corajosa e oportuna, acabou ressoando como afirmadora de um protagonismo da autoridade monetária internacional frente a um desafio que todos estão carecas de saber, sem que aparecesse alguém a dizer que o rei está pelado na praça.
No Brasil, a presidente Dilma, que tem na vida sabido pagar preços elevados, fez algo politicamente incorreto: denunciou o nível enlouquecido da nossa taxa de juros e bancou sua parte, anunciando mais cortes que – espero – sejam nas despesas correntes, e não nos investimentos, como tem sido a regra. Dilma pagou e levou a redução inesperada da taxa Selic.
Será que alguém no governo passou a entender o mal que os juros altos permanentes faz ao Brasil e a seu potencial de competição, crescimento e democratização da riqueza? Dilma parece que se convenceu; o Brasil ganha e, assim, se prepara melhor para uma eventual trombada externa.
O Banco Central (BC) também mostrou que não decide com receio do barulho da garotada das mesas de bancos.
Na Alemanha, outra mulher tem dado provas de seu juízo e delicadeza, um lado diferente da verdadeira firmeza. Ela é Angela Merkel, que conheci ainda ministra numa reunião da Fundação K. Adenauer, em Berlim.
Pessoa de total bom senso, Merkel sabe que a Alemanha não pode mais se divorciar do euro. A moeda comunitária é melhor para a Alemanha exportar e gerar competitividade industrial do que, por exemplo, o real – sim, o nosso real – caso fosse a moeda dos alemães.
Ao entender, literalmente, esse outro lado bom da moeda mais fraca, Merkel protege empregos alemães, enquanto estuda como encarar parte da conta dos primos gastadores. Esses três exemplos femininos nos ajudam a entender porque o mundo não vai acabar por causa da crise. A coragem delas, ao encarar de frente o que vem sendo dissimulado pelo sexo fraco (os homens), joga otimismo nos mercados. Curioso, não?
Fonte: Brasil Econômico, 02/09/2011
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