Por Anderson Oliveira
Encerro cinco anos de graduação em meio a um dos mais alarmantes cenários que já presenciei no que diz respeito à imprensa. As eleições majoritárias de 2010 decerto deixarão tristes sinais na história de nosso jornalismo. Uma batalha senil arrebata cada vez mais alguns dos principais jornalistas e meios de comunicação do país. A disputa, estreitamente ligada à política, se não prima-irmã desta, está na pauta de sites e blogs, e traz consigo inúmeros leitores também ligados à polarização partidária em voga nestas eleições.
De um lado, os chamados grandes grupos midiáticos, demônios desprovidos de rosto, cor, ou qualquer outro atributo inerente à raça humana. Esta parte, segundo consta, defende os chamados partidos de direita: conservadores que se opõem ao governo “progressista” hoje no comando do país. Trata-se de um setor composto pelos maiores veículos de comunicação do Brasil, alguns deles detentores de concessões públicas, como as redes de televisão.
Contra eles, erige-se toda uma gama de jornalistas e pequenos veículos de comunicação supostamente ligados à esquerda, mantidos a maioria com anúncios de empresas estatais. Ao lado destes, um sem número de blogueiros, alguns bem visitados, aumentam o alcance dos cada dia mais virulentos ataques tanto aos partidos de oposição do atual governo quanto aos veículos integrantes do “monstro” acima citado.
Este grupo, ligado também a movimentos civis como o MST e a UNE, e com apoio do partido ora no poder, está fazendo manifestos contra o que chama de “excesso de liberdade de imprensa”, algo em voga no país desde o fim da ditadura militar. Em busca de uma imprensa “livre e democrática”, estes setores opõem-se à existência de grandes veículos de comunicação, contra os quais não conseguem competir em número de leitores.
Este cenário, que já me assombrava antes mesmo de colocar o pé na graduação, talvez se torne menos caótico após o término das eleições. Contudo, revelam o quão partidária continua sendo a imprensa em pleno século XXI. Nascido no seio da política, o jornalismo ainda guarda em si as marcas de sua submissão ao poder. E volta paulatinamente à função que exercia durante a Revolução Francesa, como nos mostra Traquina ao descrever a existência do jornalismo como arma política.
Somente com um modelo comercial de produção de notícias, denota o mesmo Traquina, a imprensa finalmente se desvinculou de sua identidade propagandista. Não obstante, o que vemos atualmente nada mais é que a ressurreição deste modelo arcaico de fazer jornalismo.
Ante a revelação de casos de corrupção envolvendo integrantes do atual governo, publicadas por alguns dos maiores e mais antigos veículos de comunicação brasileiros, outros tantos jornais, revistas e blogueiros passaram a atacar os denunciadores. Uma clara inversão, em que o problema não está mais no mal apontado na notícia, mas no próprio denunciante. A corrupção reportada – que fez com que os apontados em esquemas ilícitos pedissem demissão – não é o problema para esta camada do jornalismo, mas sim os jornalistas e as empresas de comunicação que publicaram tal conteúdo.
Afeitos ao discurso da necessidade de democratização dos meios de comunicação, este setor não se satisfaz com uma das mais louváveis características de uma democracia: a liberdade de escolha proporcionada ao leitor. Querem mais. Desejam que veículos de comunicação com décadas de existência fechem as portas, deixando assim de publicar notícias desfavoráveis ao governo.
Esquecem, por uma inerente incapacidade de refletir sobre o paradoxo de seu discurso, que o fechamento de portas de qualquer instituição democrática é, na verdade, um dos primeiros passos no caminho para o totalitarismo.
Assim como as eleições deste ano denotam uma polarização política que tenderá a fortalecer-se ainda mais nos próximos anos, nossa imprensa caminha paulatinamente nesse sentido. Uma imprensa, contudo, indisposta consigo mesma, aliada ao poder vigente, ganha cada dia mais força ancorada na militância de partidos e instituições vinculados ao governo.
Termino minha graduação, todavia, não de maneira isenta. Ficar em cima do muro enquanto parte da imprensa tenta aniquilar seus supostos “opositores” soa, no mínimo, como um suicídio.
Posiciono-me não ao lado da grande mídia, termo simplista, mas das centenas de jornalistas empregados nestas instituições. Profissionais jovens ou com anos de história dedicados ao jornalismo, também com suas ideologias, seus valores e suas crenças. Atentar contra os “monstros” midiáticos é atentar contra estes tantos homens e mulheres que relatam todos os dias as histórias de nosso país, através de notícias, reportagens, etc.
Defendo, ainda, a possibilidade de uma empresa privada defender sua visão de mundo por intermédio de seus articulistas, seja ela de esquerda, liberal ou conservadora. E a possibilidade de noticiar o que, a seu entender, é notícia – algo que parece básico, mas não é – ainda que vá contra os interesses do poder público.
As notícias publicadas em nossos maiores meios de comunicação, dando conta da corrupção envolvendo integrantes do governo, foram as principais responsáveis pelo pedido de demissão destes importantes funcionários do executivo federal. Onde estava a mentira?
Não desejo que este setor tresloucado de nossa imprensa, composto por jornalistas blogueiros e pequenas empresas de comunicação silencie. Contudo, desejo que não atente contra a existência de uma imprensa desvinculada do poder, comercial e, por isso mesmo, independente de qualquer partido ou figura política.
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