Depois da compra do Twitter por Elon Musk, plataformas alternativas como Mastodon e Hive viram seus números de usuários aumentar. No Brasil, especificamente, a maior inclinação é para a rede social indiana Koo, cujo ícone é um passarinho (amarelo) e o nome gerou uma onda de memes na internet. Contudo, pouco mais de uma semana após o lançamento no mercado sul-americano, a Koo já enfrenta desafios relacionados à segurança e à moderação de conteúdo.
Em meio ao caos de relatos de bugs e dificuldades para acessar o aplicativo, o controverso influenciador digital Felipe Neto, por exemplo, teve sua conta invadida por hackers, obrigando a empresa a, ironicamente, se pronunciar em seu perfil oficial do Twitter para tranquilizar os usuários quanto à segurança dos seus dados. Além disso, já foi criada uma enxurrada de perfis falsos se passando por políticos como o presidente Jair Bolsonaro e a deputada federal Carla Zambelli, banida de todas as redes sociais.
A Koo foi lançada na Índia em 2020 e ganhou popularidade em meio a divergências entre o governo indiano e o Twitter. Para quem não se lembra, o impasse envolveu a tentativa de autoridades indianas de derrubar mais de 1.100 contas e postagens que o governo argumentou estarem espalhando desinformação sobre os protestos de agricultores contra as novas regulamentações agrárias. À medida que as críticas cresceram, o governo passou a exigir o bloqueio de centenas de contas, incluindo as de líderes da oposição. Na época, a gigante americana se recusou a cumprir totalmente as ordens do governo, alegando a inexistência de conflitos com a legislação local e a violação da política de liberdade de expressão. Nesse cenário, a principal beneficiária foi a Koo, visto que os inúmeros perfis criados por organizações e lideranças políticas para fazer anúncios oficiais alavancaram o número de novos downloads.
Embora se considere apolítica e também favorável à liberdade de expressão, a empresa indiana enfrentou críticas por sua inclinação de direita, foi acusada de censurar discursos contrários ao governo da Índia e chegou a ser comparada ao Parler, rede social americana que se tornou popular entre os conservadores apoiadores do ex-presidente (e então banido do Twitter) Donald Trump.
Trump, aliás, deve estar comemorando a recente reativação da sua conta, uma das muitas medidas tomadas por Elon Musk desde a aquisição do Twitter por US$ 44 bilhões. O magnata sul africano comanda um extenso processo de reformulação interna que, além de demitir mais da metade dos funcionários, criou uma versão paga da rede social e alterou o sistema de selos de verificação de contas. O que não é novidade, contudo, é a vigorosa defesa da política pró liberdade de expressão. Musk acredita que “a liberdade de expressão é a base de uma democracia funcional, e o Twitter é a praça digital da cidade onde são debatidos assuntos vitais para o futuro da humanidade”.
O discurso do novo dono da plataforma alarmou as pessoas que temem que o Twitter possa se tornar um local para a disseminação de visões extremistas e de discurso de ódio, não obstante o próprio Musk ter admitido que haverá algum grau de moderação, até mesmo pela sujeição da plataforma às legislações dos países em que opera.
Depois que a hashtag RIPTwitter (descanse em paz Twitter, em tradução livre) tomou conta da mídia nos últimos dias, a situação foi ainda mais apimentada quando a rival indiana anunciou que planeja contratar ex-funcionários do Twitter.
A disputa entre as plataformas, entretanto, tende a beneficiar o usuário, que, com a concorrência, passa a ter mais opções no mercado das redes sociais. A competição de mercado é o coração do sistema capitalista e serve como força motriz para a inovação criativa, mecanismo pelo qual as ofertas e as demandas são colocadas em equilíbrio coordenado para que os indivíduos encontrem livremente o que satisfaça melhor aos seus anseios.
Como bem nos ensina Friedrich Hayek, é somente através da competição que podemos não apenas descobrir como uma corrida terminará, mas as próprias habilidades de cada indivíduo (e seus negócios) em relação aos demais. Há que se ter em mente que empresas privadas estão sujeitas aos fenômenos de mercado, dependem de lucro para existir e que se submetem, em última instância, justamente à supremacia do consumidor. Se, por um lado, o Twitter de Elon Musk experimenta os receios de usuários quanto às mudanças na cultura da empresa, por outro, a Koo precisa criar políticas melhores de proteção de dados e de moderação, se quiser ser relevante a longo prazo. Certamente, é o termômetro do consumidor que terá papel preponderante no desenrolar dessa história.
*Por Juliana Bravo/ associada ao Instituto Líderes do Amanhã