Ao fim deste primeiro semestre é importante uma análise sobre os principais eventos ocorridos neste período e sobre como deve evoluir a economia até o final do ano, tendo neste ínterim uma disputada eleição em outubro.
No front político, as pesquisas mais recentes mostram uma disputa ainda não muito acirrada entre a candidata Dilma Rousseff e Aécio Neves, a primeira entre 38% e 40% de preferência de votos e o segundo, “lutando” para sair dos 20%.
Na última pesquisa divulgada, da DataFolha, melhorou um pouco o humor dos eleitores em relação à candidata Dilma, até pelo sucesso da Copa do Mundo, o que deu um “gás” à sua campanha. Ao longo do primeiro semestre, no entanto, não foi isto que ocorreu, com Dilma perdendo boa vantagem do passado (já chegou a 58% em meados de 2013), abrindo a disputa com o principal candidato da oposição, Aécio Neves. Isto acabou se refletindo no desempenho dos mercados de ativos, com destaque para a bolsa de valores. Em verdade, as várias pesquisas eleitorais ditaram o ritmo dos mercados neste primeiro semestre, com o Ibovespa avançando 3,7% em junho, 5,4% no segundo trimestre, acumulando 3,2% no ano.
Lembremos que no primeiro trimestre o humor dos mercados foi afetado pelas perspectivas de rebaixamento do país pela Standard & Poors, o que acabou se confirmando em fins de março (BBB para BBB-, mas ainda em investment grade). A partir do segundo trimestre, no entanto, com as pesquisas mais favoráveis à oposição, mostrando Dilma recuando e Aécio crescendo, e no cenário externo o Fed mantendo sua política gradualista no desmonte dos estímulos monetários, o desempenho do Ibovespa acabou revertendo a queda da primeira parte do ano.
Na análise da economia, no entanto, não existem grandes motivos para comemorações, mesmo com a inflação cedendo mensalmente, mas ainda em patamar elevado nos 12 meses (6,4% pelo IPCA). A atividade econômica continua frágil, a gestão fiscal cercada de desconfianças e as contas externas no negativo, com o déficit em conta corrente, nos 12 meses, em torno de US$ 81 bilhões, mas apontando tendência de queda, dada a recuperação da balança comercial em junho.
Neste cenário delicado, o Bacen acabou mantendo a estratégia cambial de vendas no futuro, iniciada em agosto passado, ofertando “rações diárias” de contratos de swap no mercado futuro (US$ 200 milhões), visando inibir apostas especulativas contra o real, além de manter uma rotina de “irrigações de liquidez” no mercado cambial. Com isto, o dólar vem se mantendo “administrado”, em torno de R$ 2,20 a R$ 2,25 nos meses recentes. Estejamos atentos, no entanto, ao acirramento de posições dos investidores externos, com as eleições e o desenlace no ciclo de desmontes dos estímulos monetários nos EUA. Caso a candidata Dilma seja reeleita, um processo de correção acabará inevitável no mercado cambial, com alguma fuga de investidores estrangeiros e o dólar indo a R$ 2,40 ao fim deste ano. Em 2015, deve continuar pressionado, podendo ir a R$ 2,50.
Esta estratégia de “rações diárias” e dólar a R$ 2,20, inclusive, vêm contribuindo para derrubar a inflação nas últimas apurações. Os IGPs vêm registrando taxas negativas, assim como os IPCs, em torno de 0,35%/0,40%. Os índices da FGV registram deflações em alguns casos, em decorrência da queda dos preços agrícolas no atacado, mas também pelo recuo dos tradeables, com destaque para as commodities. No caso dos IPCs, no entanto, em 12 meses as taxas se aproximam de 6,5%, teto do sistema de metas, dada o recrudescimento no primeiro trimestre. Neste cenário, e nos comunicados do BACEN, é possível a manutenção dos juros nos 11% ao fim deste ano. Surgem dúvidas sobre o cenário para 2015, dado o ritmo fraco da economia. Muitos consideram a hipótese do juro até ser reduzindo diante deste quadro.
Falando do ritmo da economia, a indústria e o varejo seguem com o “freio de mão” puxado. No caso da indústria, o impacto da crise cambial na Argentina sobre a indústria automobilística nacional cobra o seu preço, assim como uma demanda mais fraca e o acúmulo de estoques, com muitas indústrias anunciado férias coletivas. No varejo, as liquidações de estação acabaram antecipadas, se iniciando poucos dias depois do início do inverno (21/6).
Em maio, a produção do segmento automotivo recuou 20% contra o mesmo mês do ano passado derrubando bens duráveis, que recuou 3,6% contra abril e 3,2% no ano. Em resposta a isto, o governo anunciou a prorrogação do IPI nos 3% até o final do ano. Muitos acham que esta medida não deve ter maiores efeitos, dada a limitada capacidade de endividamento e o receio de desemprego dos consumidores, além do impacto nas vendas externas menores para a Argentina. Outra categoria de uso a recuar forte em maio foi de bens de capital, impactada pelo horizonte turvo, fazendo com que os empresários adiem seus projetos de investimento. A produção de bens de capital recuou 2,6% contra abril, 5,8% no ano, mas ainda avançando em 12 meses (4,1%).
Quando não faltava mais nada, uma série de indicadores de confiança dos vários agentes da economia (indústria, serviços, comércio, etc) continua em baixa, reforçando este baixo astral da economia. Em junho, pela FGV, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) recuou 3,9% contra maio; o de Serviços (ICS) 0,7% e o do comércio (ICC) “esboçou” pequena reação (gráfico a seguir).
Devemos lembrar também do impacto da Copa do Mundo sobre o comércio e a indústria, já que nos dias de jogos estes segmentos não funcionaram ou o fizeram parcialmente.
Por fim, não podemos deixar de citar a errática gestão fiscal. Em 12 meses, até maio, o saldo primário foi a 1,52% do PIB, com muitos já considerando este o resultado para o ano, bem abaixo da meta de 1,9%. Na semana passada, o governo voltou a agir, anunciando a antecipação de receitas da Petrobras para o Tesouro, em R$ 2 bilhões neste ano e nos próximos. Esta receita só se materializaria para a empresa depois de 2021. Em maio, o resultado fiscal foi negativo em R$ 11 bilhões, com as despesas crescentes e as receitas fracas. Com isto, novas maquiagens fiscais devem surgir nos próximos meses.
Concluindo, pelos fundamentos econômicos, o ano está praticamente perdido. Pelos movimentos do governo, todas as decisões mais importantes devem ficar para 2015. Sendo assim, neste ano tudo será “empurrado com a barriga”.
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