A América Latina é rica em exemplos de países que falsamente se colocaram como descobridores de algum caminho econômico novo. Como se novas teorias brotassem em terras latinas e, pior, com a crença de que de fato funcionam.
Nós mesmos já fizemos muita arte desse tipo, valendo lembrar aqui os nada saudosos anos 80. Mas é impressionante como alguns países se superam na arte do autoengano econômico.
A Venezuela é um desses casos, mas ninguém em sã consciência acredita que algo do que se faz lá seja válido. E a Argentina novamente dá o exemplo que o temerário em economia pode ser beneficiado através da reeleição.
A escolha para um novo mandado para a presidente Cristina Kirchner validou um modelo esquizofrênico de curto prazo com data de validade para acabar. Pode ser creditado às débeis instituições latinas que permitem esse tipo de superpresidencialismo que, no caso argentino é ainda mais crítico quando lembramos que mesmo o Supremo Federal daquele país já não tem tanta independência assim desde os tempos de Peron.
O que incomoda no caso argentino não é apenas o voto de confiança num modelo sem futuro, mas como ele ainda consegue atrair bons olhos de certa parte da comunidade acadêmica latino-americana. Fazem parte desses adoradores aqueles para os quais tudo numa economia se resume a juros e câmbio.
Para essa turma mais heterodoxa um país estará sempre sem perspectivas porque os juros são elevados e o câmbio apreciado.
Qual a solução? Muito simples, deprecie o câmbio de forma sustentável e baixe forçadamente a taxa de juros, nem que para isso precise trocar várias vezes o presidente do Banco Central.
A Argentina fez isso e colheu o resultado, que é uma inflação de 30% ao ano que tira qualquer capacidade de previsibilidade para os empresários daquele país ao mesmo tempo em que gera desconfiança irrestrita dos agentes internacionais.
Como confiar num país que em uma década deu dois calotes e um índice de inflação fajuto, caso único na economia mundial hoje?
Por conta disso, a Argentina apenas conseguiu crescer com duas coisas: as reformas que foram feitas nos anos 90, mais intensas que as nossas e, também por isso, logrando mais crescimento na década passada; e políticas de curto prazo, muito mais bizarras do que as nossas, que passaram por uma reestatização da previdência social para ser utilizada em gastos sociais correntes.
Já gastaram as reformas de longo prazo do século passado e não tem mais recursos fiscais extras de onde tirar. Até os exportadores já pagaram a conta com impostos elevados sobre as commodities.
É inevitável imaginar que o país não terá mais capacidade doméstica de crescimento que não passe por gerar inflação permanentemente através do déficit público que se criará. Para manter a estrutura peronista, a política fiscal extensiva é a única alternativa e, nesse momento, ela nada mais é do que inflacionista.
Tem quem goste disso, acha bonito crescer 9% mesmo com inflação de 30%, um detalhe. Mas o diabo não mora nos detalhes?
Fonte: Brasil Econômico, 14/11/2011
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