A 21ª fase da Operação Lava-Jato prendeu um suposto amigo íntimo do ex-presidente Lula, aproximando-se, como nunca antes na história deste país, do núcleo duro do poder político. Caída a noite e nascido o dia, as novidades do ontem ficaram velhas em questão de instantes. Em pronunciamento surpreendente, a colenda Suprema Corte, por unânime decisão colegiada, referendou a inédita prisão cautelar de um líder do governo no Senado, bem como de conhecido banqueiro brasileiro. E amanhã, quem será?
No entreato dos acontecimentos, fatos, cada vez mais impressionantes, surgem com brilho e nitidez. Aqui, não faço juízo de valor, restringindo a análise ao exercício crítico da realidade posta. Por assim ser, do mensalão ao petrolão, parece estar claro que as instituições políticas foram cooptadas por complexas organizações criminosas que, através do conluio doloso entre o público e privado, acabaram por desnaturar o capitalismo liberal para um perigoso sistema de ilícito dirigismo estatal de favores.
[su_quote]O tão festejado ‘capitalismo de Estado’ usa o apelido capitalista para ser privadamente autoritário[/su_quote]
Nesse sistema doentio, a burocracia e os aparelhos de governo passam a servir canalizados interesses empresariais que, alinhado ao grupo dirigente dominante, quebram a livre concorrência econômica, criando um sistema de poder para fins oligopolistas. Para tanto, através de empréstimos públicos subsidiados, criam gigantes conglomerados negociais que, em troca de lucros fartos, pagam dízimos partidários graúdos, corrompendo, geneticamente, a estrutura política nacional. Em outras palavras, o tão festejado “capitalismo de Estado” usa o apelido capitalista para ser privadamente autoritário.
Sim, muito há ainda a ser feito, mas o processo em curso é promissor. Na busca de uma sociedade mais digna, o Poder Judiciário, o Ministério Público e as forças policiais podem muito, mas não podem tudo. Objetivamente, quem muda a essência da política democrática é o exercício sério, diário e responsável da cidadania ativa. Portanto, precisamos de uma urgente mudança comportamental que nos liberte da letargia cívica. Ser cidadão é agir concretamente e fazer a diferença. Queres, então luta. Ou preferes o movimento da manada manobrável?
Fonte: Zero Hora, 26/11/2015
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