Nós brasileiros já nos habituamos com a frequente menção à inequidade social reinante em nosso país. Porém, raramente nos chegam comentários sobre esse tema a respeito dos países desenvolvidos. Pois bem, embora não nos sirva de consolo, o panorama nos Estados Unidos e parte da Europa tampouco é digno de elogios.
Há três décadas que trabalhadores americanos e europeus não vêm desfrutando adequadamente dos benefícios do crescimento econômico, em contraste com os trinta anos de expressivos ganhos após a Segunda Guerra Mundial. A análise das raízes desse fenômeno implica na elaboração de extenso livro, conforme vários economistas já o fizeram, tais como o espanhol Jan Eeckhout e os franceses Daniel Cohen e Thomas Piketty. Neste artigo limito-me apenas a citar uns poucos traços do quadro em questão.
Nas economias avançadas constata-se persistente distanciamento entre os níveis de renda e de patrimônio dos ofertantes de mão de obra e os níveis dos detentores de capital. Uma das explicações provém da perda de relevância, na composição da estrutura produtiva dos países, daquelas atividades mais demandantes de mão-de-obra, provocando assim o declínio no índice de oferta de empregos na economia como um todo.
Como consequência, a criação de emprego por unidade de bens e serviços produzidos passa a definhar, mesmo em períodos de crescimento econômico. Esse cenário enfraquece o poder de barganha dos baixos e médios assalariados, tornando fácil às empresas constranger os aumentos na remuneração de seus trabalhadores.
Essa realidade se exterioriza pela discrepância entre o incremento de produtividade da economia e o aumento dos salários, em detrimento dos assalariados. Tal comportamento acelerou-se com o enfraquecimento dos sindicatos, registrado a partir dos anos oitenta.
Em paralelo com o esmorecimento dos níveis médios de remuneração verifica-se, no interior da categoria de assalariados, radical desigualdade nos valores extremos pagos aos contratados. Isto é, além de a situação financeira média dos trabalhadores dos países ricos ter se deteriorado, também constata-se ampliação da diferença entre as baixas e as elevadas remunerações, gerando alargamento da disparidade de renda entre os assalariados.
Se o panorama descrito não for revertido pode-se antever três alternativas futuras nada animadoras:
a) a economia mundial cresceria intensamente apesar da inequidade social e, assim, a humanidade caminharia para um modelo ultra desvantajoso para as classes de menor renda;
b) os desprivilegiados partiriam para uma insurreição com desastrosas consequências;
c) os desprivilegiados não se insurgiriam mas a economia tenderia a um comportamento mediocre e, dessa forma, ricos e pobres sairiam perdendo.
Apesar dessas três alternativas danificarem o alcance da prosperidade internacional socialmente satisfatória, no momento atual parte da direita pouco se importa com o problema, enquanto que o centro e a esquerda não elaboraram propostas eficazes de solução.
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