Lembro-me de ter lido um artigo no Medium alguns anos atrás (e que não encontrei agora) que colocava, de uma forma muito direta e racional, por que uma rede de blockchain deveria valer mais do que cada iniciativa individual que roda na sua plataforma.
A lógica é que todas as iniciativas estavam, de uma forma ou outra, dependentes da rede. Caso ela deixasse de funcionar, nada mais rodaria nela. Por consequência, a iniciativa individual não teria mais valor.
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Essa lógica é diferente da atual, em que muitas empresas e soluções valem mais do que as plataformas onde seus bens estão sendo negociados. A internet é um grande exemplo. É um bem público e distribuído, com um valor imenso, mas que não é mensurável, já que não há token, ação ou coisa parecida.
Em blockchain, há sempre uma forma de estimar o valor dessas infraestruturas. A mais utilizada é ir diretamente no valor de mercado dos tokens emitidos e que circulam na plataforma. Um índice similar ao do valor de mercado de uma empresa listada em Bolsa.
Há grandes discussões se essa é a forma mais correta, já que esses tokens não trazem os mesmos direitos e deveres das ações do mercado tradicional. Essa é uma discussão para um outro artigo. Aqui vamos tomar essa prática de mercado como sendo a melhor forma de se estimar o valor dessas redes de blockchain.
A coinmarketcap.com é o maior consolidador disso no mercado cripto. Nela conseguimos observar que sete das criptos com maior valor de mercado são tokens de blockchains próprias (Ethereum, Ripple, Binancecoin, Cardano, Dogecoin e Polkadot), duas stablecoins (Tether e USDC) e uma exchange descentralizada (Uniswap).
Esses valores corroboram a visão do texto e o que está acontecendo no mercado. O que inicialmente começou com uma única rede de blockchain (Bitcoin) está se expandindo – e rápido. O valor dessas redes é maior do que as iniciativas que rodam nela.
O sucesso da rede Ethereum, que inovou com a implementação de smart contracts, veio em uma velocidade maior do que a capacidade de atualização da rede para comportar todo esse fluxo. Para se ter uma ideia, as estimativas são de que mais de 3.000 criptos existentes (de um total de mais de 10.000), são tokens dentro da rede Ethereum.
Esse gargalo da rede Ethereum é um dos grandes motivos da criação de inúmeras outras blockchains, que vêm para resolver esses problemas de escalabilidade. Isso inclui uma blockchain criada pela exchange cripto Binance, a Binance chain, e seu token Binancecoin.
Mas não é só para resolver escalabilidade que estão sendo criadas blockchain específicas. Soluções que envolvem internet das coisas (IOT) requerem algumas vezes protocolos de consenso diferenciados. É o que fez a Helium ao criar o protocolo de proof of coverage (POC).
Outras soluções para armazenamento de dados de forma descentralizada também têm explorado esse caminho de criar novos consensos e blockchains separadas, sendo a Akash um dos que parecem bem promissores.
Nesse mundo que está se formando, onde teremos várias redes de blockchain operando paralelamente, uma questão ainda está em aberto: como será a interconectividade entre essas redes?
Isso é importante porque hoje, por exemplo, caso você tenha somente BTC em uma carteira e queira utilizar a plataforma da AAVE para aplicar uma stablecoin, usdC por exemplo, para ganhar juros ou você recorre a uma Exchange centralizada ou tem que migrar seus BTCs para a rede Ethereum para então trocá-los por usdC e fazer o investimento (staking).
Soluções já estão sendo propostas e utilizadas, sendo as mais conhecidas as que conectam a rede Bitcoin com a Ethereum. Wbtc e Keep (tbtc), essa última, diga-se de passagem, com brasileiro como advisor, estão entre as mais utilizadas.
As exchanges cripto também fazem esse papel, ao menos as CEX (exchanges centralizadas). quando listam tokens de redes de Blockchain distintos, elas criam uma interconexão possível entre uma rede e outra, mas fazer isso de uma forma descentralizada, segura e funcional traz desafios grandes.
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Fazendo um paralelo com o mercado financeiro tradicional (aqui já adianto que isso é trazer o ponto para uma dimensão imensamente menor, pois essas redes blockchain suplantam – e muito – casos de uso que envolvam somente transações financeiras), o que temos hoje no mundo cripto é comparável a termos sistemas de pagamentos locais por país ou região (no caso europeu) que não são interligados. É como se o sistema Swift, em que as transações de câmbio ocorrem, ainda não existisse.
Se as redes de blockchain devem valer mais do que as soluções individuais que as utilizam, imaginem uma forma direta, descentralizada, segura e barata que faça a ponte entre as várias blockchains que já foram criadas e as que estão saindo do forno? Quanto valeria isso?
Fonte: “InfoMoney”, 19/06/2021
Foto: Reprodução