Não sabemos quem vai suceder Lula. Mas pode escrever: os debates sobre 2014 vão começar assim que o próximo presidente tomar posse. A boa nova — nada disso parece ser capaz de abalar o alicerce econômico do país.
Quem será o sucessor de Dilma Rousseff, ou José Serra, ou Ciro Gomes, ou seja lá quem for eleito em outubro do ano que vem, nas eleições presidenciais de 2014? Os institutos de opinião ainda não fizeram nenhuma pesquisa a respeito, mas é uma questão de tempo até que façam — mais exatamente, não muito depois de o sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrar no Palácio do Planalto. No momento, as atenções ainda estão fixadas na disputa de 2010, mas assim que a questão for decidida já vai começar a conversa sobre a eleição seguinte. Eis aí uma das grandes certezas da política brasileira: estamos o tempo todo em campanha eleitoral, até porque há eleições a cada dois anos. A sucessão do presidente Lula começou a ser discutida, e disputada, logo depois que ele assumiu seu cargo pela primeira vez, em 2003; não há motivo para achar que será diferente com quem for eleito para substituí-lo. Já em 2011 estará em pleno desenvolvimento a campanha para as eleições municipais de 2012, que serão apontadas como muito importantes para medir a força do novo governo, sobretudo nas grandes capitais. Em 2013, naturalmente, nenhum outro assunto será tão importante na política brasileira quanto as eleições presidenciais de 2014.
Não está claro se isso é ruim ou indiferente. Bom certamente não é; talvez seja apenas inevitável. Mas a questão que realmente importa, diante disso, não é o tempo e a energia que os políticos, no governo ou na oposição, gastam tratando de eleições, e sim a capacidade que teriam de ameaçar a estabilidade geral da economia, ancorada, essencialmente, no controle da inflação — o avanço mais decisivo e transformador que o Brasil teve nos seus últimos 15 anos. A inflação, domada a partir de 1994, não foi extinta, como seria possivelmente o ideal; mas foi reduzida a um nível em que deixou de arruinar a atividade produtiva, a renda da população e a capacidade de investir ou de planejar. Nunca foi, também, o único problema do país, mas sem ser solucionada não poderia haver solução para qualquer outra coisa. Essa mudança, depois de ser feita, criou raízes. Respeitar os ganhos que trouxe, e mantê-la como alicerce central da política econômica, é o compromisso mais importante que o eleitorado pode esperar por parte de qualquer governo — em 2010, 2014, 2018 ou seja lá quando for.
É positivo constatar que a estabilidade, ao longo dos últimos anos, não foi colocada em risco por eleições e campanhas eleitorais; a esperança, e o que conta de verdade para o Brasil, é que continue sendo assim. Hoje em dia, e provavelmente pela primeira vez na história econômica brasileira, a inflação tornou-se um risco real para os políticos, como costuma observar o ex-ministro Maílson da Nóbrega. O eleitor passou a ser intolerante com tudo o que lembre a baderna inflacionária anterior ao Plano Real; bem poucos candidatos estariam dispostos a ir para uma disputa eleitoral, atualmente, dizendo que controlar a inflação é uma bobagem. Passou a ser claro, para políticos de todas as naturezas, que simplesmente não existe governo forte com moeda fraca — e ninguém acha bom negócio ir para um governo sem força. Políticos podem continuar gostando dos benefícios que tiram da gastança, mas não se entusiasmam com ideias suicidas; sabem que onde o real não estiver valendo nada a autoridade não valerá muito mais.
Nada ilustra melhor essa visão das realidades do que o atual governo. O presidente Lula, na sua campanha de 2002, dizia que o combate à inflação era uma “farsa” arrumada para beneficar “as elites”. Na reta final voltou atrás, prometeu não virar o barco e depois de eleito nunca mais tocou no assunto; ao contrário, seu Banco Central mantém há sete anos uma política anti-inflacionária duríssima. O Brasil, é verdade, ainda não chegou a um estágio de avanço em que a estabilidade básica da economia será mantida qualquer que seja o presidente eleito. Mas já andou um bom caminho nessa direção. É essencial que siga no mesmo rumo.
Fonte: Revista Exame.
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