Dilma foi bastante aplaudida no final daquela manhã de trabalho em Ankara, capital da Turquia, na sexta-feira passada. Havia uns quinhentos empresários turcos reunidos no espaçoso salão do hotel, todos muitos atentos e interessados em mais informações sobre nosso país, que desponta no imaginário da comunidade internacional.
O Brasil lhes parece muito bem e a presidenta, como gosta de ser chamada, colhe os frutos e os aplausos pelo duro trabalho realizado todos os dias, anonimamente, por milhões de brasileiros e brasileiras.
Lá estava eu, nem sei bem por quê, mas o secretário do Itamaraty que comentou minha curta fala (para tantas milhas voadas até lá) a ela se referiu como a “interessante aula do professor” (?). Dilma deu de ombros.
Que importa a visão crítica de um estudioso em economia sobre um país cujo destino histórico de grandeza já está selado? Diante dos bilhões de barris de petróleo na província do pré-sal brasileiro, em torno de cujos royalties os políticos em Brasília já se acotovelam e metem dedo no olho dos adversários, na fúria por ganhar um pedaço dessa futura abundância, com que mais haveremos de nos preocupar?
O país enriqueceu de uma hora para outra, fazendo com que fiquemos ainda mais desatentos ao imperativo da competitividade mundial e do valor moral do trabalho como verdadeira ferramenta na construção de uma nacionalidade.
Não é a desatenção de Dilma, sobre cujo pensamento pouco se desvenda, mas a despreocupação da nação inteira, que parece ter a atenção concentrada na Copa de 2014.
Faço esse comentário em tom de desabafo: enquanto nos aplaudiam na Turquia por nossa sorte atual e riquezas futuras, vejo ruir o resto de poder competitivo dos produtos brasileiros no exterior. Nosso desempenho comercial é ainda positivo apenas porque atrelado a preços irreais de commodities.
Na mesma reunião de Ankara falou um de nossos melhores (e mais competitivos) empresários, sócio principal da Metalfrio, que tem fábricas na Turquia, Rússia e México, além da matriz no Brasil. Caio me disse taxativamente: “No Brasil, nosso custo final de produto está perdendo disparado, contra qualquer outro país!”.
De fato, o alerta de quem está no campo de jogo da competição internacional, deveria acender todas as luzes vermelhas para Dilma e sua equipe. Apesar do recente momento de consciência, com o desenho de um plano chamado de Brasil Maior, a economia brasileira segue deslizando para o buraco da impossibilidade de competir.
As razões são três: impostos, impostos e impostos. Estou convencido de que a injusta e estúpida carga, que chamo de manicômio tributário, despejada nos ombros do empresário brasileiro ainda nos fará chorar muito de arrependimento por não termos tido a coragem, como sociedade civil, de exigir, em uníssono, que o governo pare de tergiversar e enfrente o tema da simplificação fiscal e parta para um ajuste radical da ineficiência da máquina pública.
Cadê as vozes das lideranças empresariais e de trabalhadores? Sim, porque é o povão que paga, hoje, uma carga de 50% do seu salário em impostos. Temos pouco tempo para enfrentar o tigre da competição externa. E ele vem faminto para nos mutilar. Não exagero em minhas palavras.
Fonte: Brasil Econômico, 14/10/2011
sobre um país cujo destino histórico de grandeza já está selado”. Com um povo demoralizado, onde o roubo é aceito por todos, um bando de fracassados, moralmente extintos. Seria melhor definir o que seja grandeza histórica. A Inglaterra no momento em que perdia seu império teve sua “finest hour”, a pequena Dinamarca altiva, nobre, recusou-se a entregar os seus judeus para os nazistas. Está havendo confusão em fazer parte do BRICS e ser um grande país.