Quem acompanhou com atenção os movimentos que antecederam à privatização dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília viu confirmadas as expectativas de ágio alto e aposta dos consórcios numa rentabilidade mais baixa – mas, mesmo assim, deve ter se espantado com a agressividade de algumas das propostas.
O caso de Guarulhos, vencido por um grupo composto pela construtora OAS, por três dos maiores fundos de pensão do país – Previ, Petros e Funcef – e pela operadora sul-africana ACSA, é o mais surpreendente de todos.
A proposta vencedora, de R$ 16,2 bilhões por 20 anos de concessão, ficou mais de 370% acima do valor mínimo de outorga, que era de R$ 3,4 bilhões. (Alguns analistas dizem que a questão não é que o ágio foi elevado; o problema estava no preço de partida, que muita gente considerou baixo.)
De qualquer forma, o apetite dos vencedores foi enorme – comparável apenas às dificuldades que eles aparentemente terão para fazer o negócio dar dinheiro.
Os R$ 16,2 bilhões serão pagos ao governo em prestações que começarão a vencer um ano depois de o consórcio tomar posse formalmente do aeroporto. Isso significaria, mais ou menos, R$ 800 milhões por ano. Os números de 2010 (os últimos disponíveis) mostram que não será fácil conseguir todo esse dinheiro.
Naquele ano, o Cumbica faturou um total de R$ 770 milhões, contra despesas de mais de R$ 420 milhões. A diferença entre receita e despesas foi de R$ 347 milhões.
Ou seja: para pagar o que prometeu ao governo e ainda ter lucro com a operação, o consórcio vencedor terá que aumentar o faturamento em mais ou menos 50%, para algo em torno de R$ 1,2 bilhão por ano. (Diga-se em favor do consórcio que a construção do terceiro terminal – que deverá ser agilizada – já significará a possibilidade de ampliação do número de passageiros, que foi de 30 milhões no ano passado.)
Além disso, o grupo terá de reduzir de forma drástica suas despesas, para algo em torno de R$ 200 milhões. Chegar a esses números é possível. Mas a dificuldade será enorme.
O governo permanece sócio do negócio, com participações de 49% em Guarulhos e nos outros dois aeroportos privatizados. Isso significa que, de cada R$ 2 investidos no aeroporto, R$ 0,98 sairão dos cofres públicos.
Os casos dos outros dois aeroportos privatizados também merecem análise – mas, sem sombra de dúvida, a equação em torno deles é mais fácil de ser compreendida.
Sobretudo em Viracopos, que teve o menor de todos os ágios e apresenta uma possibilidade extraordinária de expansão. Mas, de um modo geral, as três vendas – mesmo a de Guarulhos, com tudo o que foi dito acima – foram positivas e significarão um bem para o país.
A única possibilidade de o consórcio vencedor fazer dinheiro com o maior aeroporto do país será com uma administração eficiente e ajustada.
Por administração eficiente entende-se a redução dos atrasos, a redução do tempo para embarque e desembarque de passageiros, a melhor gestão do estacionamento, a melhor gestão do manuseio de bagagens (evitando-se a violação dos conteúdos das malas) e a solução de um monte de problemas que as pessoas que hoje usam os terminais da Infraero são obrigadas a suportar.
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