Há algo de muito triste na vida de um pedinte: são limitadas as opções de alocação de seus parcos recursos. Ganha tão pouco com esmolas que não consegue abrir conta em banco ou fazer aplicações financeiras. Mas não se engane: ele entende bem o que é melhor para ele. Experimente levá-lo, à força, para um abrigo. Ele sairá e voltará ao semáforo para pedir mais esmolas até que um dia os preços relativos mudem de tal forma que lhe seja mais interessante arrumar um emprego ao invés de esmolar.
Para um leitor deste texto, certamente uma pessoa com acesso à internet, a vida é menos dura. Seu dinheiro pode ser gasto ou poupado. Provavelmente tem uma caderneta de poupança ou aplicação em algum tipo de fundo de investimento. Goste ou não dos temas abordados aqui no OrdemLivre.org, o fato é que nosso leitor mediano provavelmente usa algum tipo de serviço como o home banking, permitindo-lhe doar dinheiro para alguma boa causa ou pagar por um livro cujo anúncio viu no site de alguma boa livraria.
As pessoas respondem a incentivos, e um forte incentivo é a informação sobre como seu bolso será afetado pela política econômica. Os políticos do governo começam a falar que a inflação pode não ser um problema? Logo, logo, alguns reagem transformando seus recursos monetários em ativos indexados. O presidente anuncia que prefere garantir sua fonte de endividamento ao invés de incentivar um mercado mais competitivo na captação de poupanças privadas, criando um imposto sobre a poupança em detrimento de alguma tentativa de baratear os custos administrativos das corretoras? Rapidamente as pessoas percebem que poupar pode ficar mais caro do que emprestar ao governo.
Praticamente todo brasileiro sabe, hoje, o significado do termo “incentivo”. Entender o funcionamento do mercado financeiro é parte da educação básica de muita gente. Se queremos que uma pessoa que acaba de sair da linha de pobreza e educa seus filhos ao invés de incentivar o trabalho infantil melhore de vida, devemos lhe dar educação financeira. Esse sujeito precisa aprender como ganhar na lógica do funcionamento dos mercados. De nada adianta lhe falar de teorias que sequer conseguem “transformar valor em preços” ou de fantasias conspiratórias quando o sujeito percebe a importância do capital humano (educação), e do uso racional da informação para aumentar sua riqueza.
É tão óbvio que pessoas reagem racionalmente aos incentivos, que alguns poderiam pensar que basta desenhar os incentivos conforme o que pensamos ser o correto, socialmente, que obteríamos resultados estrondosos. Bem, neste ponto a história fica mais complicada, porque o que é bom para mim nem sempre é bom para outros. Não é à toa que as pessoas adoram vender a idéia de que a “diversidade é algo a ser celebrado”. Se a diversidade é boa, isto significa que não é tão fácil assim saber o que é bom para alguém. Construir mecanismos (incentivos) para guiar a sociedade para um resultado economicamente superior é algo que não se faz desconsiderando a diversidade.
É exatamente neste ponto que se inicia qualquer vertente do pensamento liberal, tão incorretamente descrito como “arranjo social no qual os indivíduos não interagem entre si” (ou “são egoístas”). A falta de inteligência de alguns inimigos deste pensamento os levam à leitura errônea do pensamento liberal e, talvez, à proposição igualmente errônea de que basta um partido que represente uma classe definir o que é bom para todos que tudo se resolve. Talvez este seja um dos temas a serem debatidos pelo pessoal da campanha liberdade na estrada.
(Publicado em Ordem Livre.org)
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