Abro o jornal, logo pela manhã, e leio que a presidente Dilma, em Bruxelas, atribuiu a alta da inflação a problemas conjunturais, e não estruturais, mais especificamente “à seca, que eleva o preço dos alimentos”, e à desvalorização do real frente ao dólar. Não satisfeita em jogar suas culpas nos “ombros alheios”, Dilma recomendou que a população não pare de consumir por causa da inflação e da recessão.
[su_quote]Se eu tivesse de dar um conselho aos brasileiros, eu sugeriria que poupem seus recursos[/su_quote]
A explicação presidencial para a alta da inflação chega a ser patética. Ao contrário do que diz a governanta, e como bem resumiu o Constantino em artigo recente, “A inflação é o resultado de uma política monetária frouxa, somada a uma política fiscal expansionista. Trocando em miúdos: taxa de juros abaixo do que deveria, crédito abundante e gastos públicos crescentes. Inflação é uma política de governo, uma decisão, uma escolha. O PT escolheu essa alta inflação.”
Como ensinou Milton Friedman, a inflação “é um fenômeno exclusivamente monetário”, causada pelo aumento da quantidade de moeda e/ou crédito sem o respectivo lastro. A inflação, portanto, agora nas palavras de Ludwig Von Mises, “não é um ato de Deus, uma catástrofe da natureza ou uma doença que se alastra como a peste. A inflação é uma política deliberada”, adotada por governos irresponsáveis que, para nosso azar, são também os maiores beneficiários dela.
Mas o pior mesmo foi a recomendação, perfeitamente afinada com os alfarrábios keynesianos, para que a população de Pindorama deixe de lado a poupança e continue a consumir. Trata-se do conselho mais disparatado que alguém poderia dar aos brasileiros no atual momento.
De acordo com a teoria keynesiana, da qual a presidenta e seus asseclas são entusiastas, as recessões são resultado da retração “exagerada” do consumo. Portanto, se a sociedade está poupando mais do que seria desejável – do ponto de vista das mentes iluminadas, evidentemente –, o consumo e as vendas caem, os lucros mínguam e produzem desemprego.
A base da teoria, portanto, é que os indivíduos, ao poupar seus recursos “em excesso”, contribuem para prejudicar os níveis de renda agregada da economia. Chamam a isso de “Paradoxo da Parcimônia”. Segundo essa estranha lógica, algo que é benéfico para os indivíduos, as famílias e as empresas de modo geral, ou seja, a parcimônia e a prudência nos gastos e, conseqüentemente, o aumento dos níveis de poupança, é ruim para a sociedade como um todo.
O raciocínio coloca em posições antagônicas a poupança e o consumo. É certo que, se alguém resolve poupar, está automaticamente abrindo mão de utilizar o dinheiro para consumo imediato. Ocorre que só fazemos tal opção visando ao consumo futuro. Ninguém poupa por sadismo. Daí porque quem poupa espera ser remunerado pelo sacrifício, o que é feito através da cobrança de juros (ninguém mais guarda dinheiro embaixo do colchão). Em outras palavras, o poupador está fazendo um investimento. Na verdade, a poupança não é outra coisa que não uma forma diferente de gastar os recursos, no sentido de que não será o seu dono quem os gastará diretamente, mas uma outra pessoa (chamada de tomador), que provavelmente utilizará o dinheiro em bens de consumo ou de produção.
Como nos lembra Sheldon Richman, a poupança pode ser induzida também por força de incertezas quanto ao futuro, caso em que os indivíduos reduzem seus gastos em bens de consumo supérfluos – produtos cuja demanda é mais elástica – no presente, com medo de que os recursos possam faltar-lhes até mesmo para o consumo do essencial no futuro. Isto geralmente ocorre em épocas de crise recessiva, quando os níveis de desemprego crescem e, junto com eles, o temor quase generalizado de que o nosso emprego possa ser o próximo.
Portanto, ao contrário da presidente, se eu tivesse de dar um conselho aos brasileiros, eu sugeriria que poupem seus recursos e os apliquem em ativos reais, afinal, “prudência e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”…
Fonte: Instituto Liberal, 12/06/2015.
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