Ao longo dos anos, tenho feito menção aos livros que fui organizando, para compartilhar com o leitor ideias que julgava importante difundir para um público mais amplo que o da academia. Profissionalmente, porém, essas atividades eram resultado de uma postura diletante, no sentido em que mestre Aurélio qualifica como “que, ou quem se ocupa de um assunto, ou exerce uma arte, por gosto e não por ofício ou obrigação”. Eram livros não vinculados ao meu ganha-pão como funcionário do BNDES.
Depois de diversos livros sem qualquer relação com meu dia-a-dia, esta vez, com a colaboração decisiva de vários colegas, aos quais cabe inteiramente o mérito pelo trabalho, estamos lançando “Derivativos e risco de mercado”, como resultado indireto do trabalho desempenhado pelo organizador e pelos autores no BNDES e que acaba de ser publicado pela Elsevier, junto com a Editora da PUC-RJ.
Como dito na apresentação, o livro se destina ao público interessado em finanças e é motivado pela “percepção da existência de uma lacuna no panorama editorial local relacionado com o segmento de apreçamento de instrumentos financeiros derivativos e de renda fixa e cálculo de risco de mercado”. O organizador e os autores entendemos que havia um nicho não plenamente ocupado, relacionado a “um campo muito específico: o da prática do gerenciamento de risco de mercado, aplicado a carteiras do mercado local e na linguagem local”, incluindo temas que funcionam como requisito para o estudo de tópicos mais avançados.
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O BNDES passou por uma profunda mudança da sua composição etária nos últimos dez anos, acompanhada do ingresso de jovens muito bem treinados, vários dos quais com especialização em finanças, distribuídos pelas áreas do banco que demandam esse tipo de habilidade. Tenho orgulho de ter chefiado uma dessas equipes durante 8 anos e meio, até maio de 2016, no Departamento de Risco de Mercado da Área de Gestão de Risco. Junto com parte do Departamento e contando com a ajuda de alguns ótimos profissionais de outras áreas da instituição, decidimos compartilhar com o público tal conhecimento, aproveitando a expertise dessas pessoas. Sinto-me à vontade para elogiar os autores, uma vez que minha tarefa de redator restringiu-se à apresentação, limitando-me, como organizador, a cobrar o atendimento dos prazos e a ser um modesto leitor e revisor dos capítulos. O elenco de autores que permitiram gerar o produto agora colocado à disposição do público compreende os colegas Adriano Simões, Cristiane Ferreira, Daniel Negrini, Diogo Gobira, Felipe Canedo de Freitas Pinheiro, Felipe Noronha Tavares, Lucas Duarte Processi, Marcos Lopez e Renato Rangel Leal de Carvalho. O denominador comum é que todos eles são funcionários do BNDES. Sendo eu parte da faixa etária que aos poucos irá saindo do palco, é uma satisfação observar essa “passagem de bastão” entre gerações.
O livro é estruturado em dois grandes blocos (derivativos e risco) e conta com 11 capítulos. No primeiro bloco, são abordados os aspectos conceituais dos derivativos; esmiuçados os modelos binomial e de Black-Scholes, além dos diferentes métodos numéricos; e explicados os conceitos de renda fixa e seus modelos, sempre com foco na realidade nacional. Já no segundo bloco, os capítulos introduzem o tema do risco de mercado; desenvolvem os aspectos ligados à estimação de volatilidade e às matrizes de covariância; e expõem o Value-at-Risk (VaR) em sua versão mais simples e na forma de tópicos avançados sobre o mesmo, além de tratar das questões ligadas à gestão de carteiras. O leitor interessado e com formação matemática encontrará assim um material didático, não com a abrangência, por exemplo, do livro clássico de John Hull, nem tão avançado quanto o famoso manual da RiskMetrics de 1995 sobre a matéria, mas a sua leitura lhe permitirá aceder a esses textos, numa etapa posterior, com uma base sólida.
O desafio para os profissionais que lidam com estes temas é duplo. Por um lado, se aprofundar no conhecimento de técnicas estatísticas sofisticadas, algo cada vez mais importante no mundo das finanças. Por outro, desenvolver a sensibilidade de não perder de vista as próprias limitações dos modelos, humildade reconhecida pelo estatístico John Turkey quando declarou que preferia “uma resposta aproximada para a pergunta certa, ainda que frequentemente vaga, ao invés de uma resposta exata para a pergunta errada, que sempre pode ser formulada de modo preciso”.
O livro pretende disponibilizar para o público especializado um instrumento didático adequado. Por outro, ele é um pequeno exemplo de como, depois de alguns anos de investimento na formação de equipes, o BNDES dispõe de quadros técnicos de primeiro nível para o dia em que, se for preciso, ele tenha que assumir maiores riscos e estruturar novas operações sofisticadas, para acessar fontes complementares de financiamento e aprimorar a gestão da sua carteira de ativos.
Fonte: “Valor Econômico”, 10/01/2018
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