Não há dúvida que a recente eleição de Hassan Rouhani para a presidência do Irã marcou uma grande inflexão naquilo que parecia ser um rumo de confrontação inexorável com os países ocidentais e Israel, cujo desembocar anunciava-se perigoso para a paz do mundo. Ele venceu esmagadoramente as eleições presidenciais com claro repúdio popular aos ultraconservadores, que pareciam ter o monopólio do poder no Irã. Foi um sinal claro que a sociedade iraniana deseja uma mudança de rumo ou, pelo menos, de ênfases.
Hassan Rouhani sucede a um extremista como Mahmoud Ahmadinejad, que afundou o Irã economicamente, tendo tido apenas por um momento breve e infrutífero apoio do presidente brasileiro e do premier turco. O novo presidente é um sopro de ar fresco na cena internacional.
Recentemente, Hassan Rouhani afirmou ao canal americano de televisão NBC que seu governo nunca irá desenvolver armas nucleares e que ele tem plena autoridade para negociar um acordo nuclear com o Ocidente. Na mesma linha, disse que o tom da carta que recebeu do presidente americano Barack Obama foi positivo e construtivo. Por sua vez, Obama afirmou que os Estados Unidos estão prontos a resolver o impasse nuclear “de uma forma que permita ao Irã demonstrar que seu programa nuclear é exclusivamente para causas pacíficas”. O porta-voz da Casa Branca, por sua vez, falou sobre a urgência que existe, pois “a janela de oportunidade está aberta, mas não indefinidamente.”
De todo modo, há um progresso surpreendente e bastante auspicioso. Outro sinal encorajador resultou das conversações havidas em Genebra em meados de outubro entre as seis potências mundiais e o Irã. Pela primeira vez, foi emitido um comunicado conjunto que descreveu as conversações como substantivas e com boas perspectivas: um progresso apreciável em comparação com o diálogo de surdos que havia no tempo de Ahmadinejad. Para o vice-ministro do Exterior do Irã, Abbas Araqchi, as partes poderiam chegar a um acordo entre três e seis meses. Estes comentários seguiram-se a uma surpreendente declaração de líder supremo, Ali Khamenei, que afirmou não se opor a concessões em diplomacia e apoiar a flexibilidade. Já o porta-voz da Casa Branca declarou que “a nova proposta iraniana teve um grau de seriedade que não tínhamos visto antes, mas as diferenças persistem e ninguém deve esperar um resultado imediato. E como disse o presidente Obama a história de desconfianças é muito profunda”.
O Irã está em situação econômica muito difícil por obra das sanções do Conselho de Segurança da ONU. Os Estados Unidos acham-se em posição mais confortável, pois não precisam mais do Irã como durante a guerra do Iraque. Ademais há muitos setores em Washington que se opõem a acordos com o Irã, Barack Obama está especialmente enfraquecido e existe a intransigência de Israel sobre a necessidade de desativar as centrífugas de urânio iranianas. Enfim, malgrado as aparências muito positivas, ainda há muitas incertezas e dúvidas sobre o resultado final das negociações.
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