Qualquer economista ou analista bem treinado tinha plena consciência sobre o que esperava o país após as eleições de 2014. A volta ao nacional-desenvolvimentismo patrocinada pelo governo federal nos lograria uma recessão de grandes proporções, seja porque havia toda a sorte de desequilíbrios na macroeconomia, seja porque a microeconomia estava intoxicada pelas mais diversas intervenções estatais. Não deixa de ser incrível, por suposto, que a sociedade tenha escolhido a continuidade, em meio a uma economia que marchava para o abismo.
O aparente sucesso da política anticíclica pós quebra do Lehman Brothers em setembro de 2008 fez parecer que o intervencionismo do Estado na economia era não apenas necessário, mas obrigatório. Não por outro motivo, em 2010, os dois presidenciáveis com maiores chances de vitória tinham como assessores economistas ligados ao desenvolvimentismo, um conjunto de práticas intervencionistas sobre o organismo econômico.
Em outra esfera, estavam aqueles que, como esse escriba, vinham o esgotamento do crescimento baseado em absorção de mão de obra. Sem poder contar com essa turbina, o crescimento passa a depender de aumentos de produtividade e/ou da taxa de investimento. Essas, por sua vez, dependem de um ambiente de negócios propício à inovação, ao acúmulo de poupança e aumento de escolaridade. Tudo, portanto, distante do que se via naqueles tempos.
Leia mais artigos de Vítor Wilher
Sobre nós, os liberais
Existe casualidade entre desemprego e procura pela Uber?
A vitória do desenvolvimentismo no pós-crise colocou em prática uma agenda de intervenções. Na microeconomia cabe destacar a emissão de mais de R$ 500 bilhões em dívida por parte do Tesouro Nacional que foi repassada para o BNDES, de modo a financiar setores e empresas, tidos como estratégicos para a política industrial do Estado. Na macroeconomia, a taxa de juros precisava cair de modo a reduzir o custo do capital para a indústria, enquanto a taxa de câmbio precisava se desvalorizar de modo a incentivar as exportações.
As consequências dessa agenda não tardaram a vir. Setores inteiros foram aniquilados pela agenda intervencionista, como o de petróleo e gás, de energia elétrica, da indústria naval e o sucroalcooleiro. As empresas estatais e os fundos de pensão, livremente ocupados por políticos, ficaram em frangalhos. As emissões do Tesouro, que respaldaram grande parte da festa intervencionista, fizeram não só aumentar a Dívida Bruta, contaminando o estoque fiscal, mas também pioraram o resultado primário, o fluxo, aumentando o gasto com subsídios, implícitos nos empréstimos do BNDES.
Já na macroeconomia, tão logo o pleito de 2014 estava liquidado, os chamados preços administrados, em particular a energia elétrica e a gasolina, foram reajustados, em uma tentativa de dar conta dos desequilíbrios criados pelo desenvolvimentismo. Os juros tiveram de ser aumentados de modo a tentar reancorar as expectativas de inflação dos agentes, enquanto a taxa de câmbio se desvalorizava em meio às incertezas em relação ao governo reeleito. Mas o pior era o resultado fiscal, que refletia não só os anos do desenvolvimentismo, mas também o aumento ininterrupto do gasto público.
As eleições de 2014 não poderiam jamais representar, nesse contexto, uma continuidade, haja visto os desequilíbrios há muito conhecidos. Era preciso enfrentar o déficit primário, hoje em 2,35% do PIB, fazer convergir a inflação, lidar com o déficit externo, desconstruir as intervenções na microeconomia. Em outras palavras, era necessário abandonar a agenda desenvolvimentista em prol de outra, baseada em reformas estruturais, que privilegiassem a melhora do ambiente de negócios.
O governo reeleito em 2014 não apenas sabia disso, como de fato tentou implementar essa mudança em seu primeiro ano de mandato, através de um ministro da fazenda alinhado ao diagnóstico. Mas, como vimos, seria impossível fazer a travessia diante do programa de governo apresentado nas eleições. Sem apoio popular, vivenciando uma das piores recessões da História econômica brasileira, cercado por casos de corrupção e já sem base parlamentar, o governo reeleito não resistiu ao processo de impeachment, o que abriu espaço para que a agenda reformista fosse tocada com maior convicção pelo Planalto.
Como se vê, o espaço para esconder os problemas do país embaixo do tapete é hoje muito pequeno. Se nada for feito no campo fiscal, em particular se uma reforma da previdência minimamente convincente não for aprovada, caminharemos a passos largos para uma moratória nos próximos anos. Se reformas estruturais não forem aprovadas, o nosso desastroso ambiente de negócios continuará nos logrando baixa produtividade e baixa taxa de investimento, fazendo com que a taxa de crescimento potencial do país permaneça pífia. Oxalá que a lição tenha sido aprendida pelos candidatos que disputarão as eleições presidenciais no ano que vem.
No Comment! Be the first one.