Do título acima esta parece ser a impressão que se tem depois da reunião do Copom da semana passada.
Certo que o presidente do BACEN deu uma “piscada em falso”. Em entrevista na “GloboNews” afirmou que o foco deveria ser o combate à inflação, deixando as oscilações do câmbio para os chamados “efeitos secundários”, considerado-as algo incontrolável, fruto de turbulências globais. Com isso, deu a quase certeza de um corte do juro Selic na reunião do dia 16, talvez o último no ano. O problema é que o cenário externo foi piorando, o que levou o BACEN a mudar de ideia. Isso acabou gerando fortes turbulências no mercado cambial, com muitos interpretando esta quebra como uma tremenda falha de comunicação. Em resposta, o BACEN resolveu dar o troco intensificando a atuação no mercado cambial, com as chamadas “rações diárias”, elevadas de US$ 250 milhões para US$ 750 milhões, nas chamadas ofertas de contratos de swap cambial no mercado futuro.
Em maio, até o dia 18 de maio, já foram US$ 5,6 bilhões usados pelo BACEN no intuito de tentar mitigar estas oscilações da taxa de câmbio. Algum custo deve incorrer sobre a dívida pública, assim como na trajetória das reservas cambiais. Em abril estas chegaram a US$ 380 bilhões, 3,7 vezes o volume de vencimentos de principal da dívida externa para os próximos 12 meses. Assim, ainda estamos numa posição bem confortável, até porque o desempenho das contas externas segue “controlável”. Em abril o superávit em conta corrente foi a US$ 620 milhões, abaixo do registrado em abril de 2017 (US$ 1,1 bilhão), o que afetou um pouco o acumulado em 12 meses, com o déficit em ligeira alta, de US$ 8,3 bilhões em março para US$ 8,9 bilhões em abril (de 0,41% do PIB para 0,43%). Já os Investimentos Externos Diretos somaram ingresso de US$ 2,6 bilhões em abril, em 12 meses acumulando US$ 61,7 bilhões, 3,0% do PIB, mais do que suficientes para o financiamento do balanço de pagamentos.
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Falando do que causou as oscilações recentes da moeda norte-americana domesticamente, não há como negar que os movimentos dos EUA vêm chamando a atenção.
Claro que o estopim se deu pela alta do juro no mercado de títulos públicos de 10 anos nos EUA, pulando em poucos dias de 2,8% a 3,1%, reflexo dos receios de uma puxada maior do juro do Fed (ver gráfico ao fim).
No front inflacionário, tanto o CPI como o PCE vêm apontando um comportamento anualizado em torno de 2%, já gravitando no centro da meta de inflação do Fed. Em resposta, a instituição, na ata da semana passada, não se mostrou preocupada com este comportamento da inflação, mais atento, talvez aos próximos meses, na trajetória do barril de petróleo, aquecimento do mercado de trabalho e nos reajustes salariais acima da produtividade, vindo a gerar pressões inflacionárias.
Na atividade também se observa que o Fed vem se posicionando de forma atenta, já que a economia “roda” em torno de 2,8% de crescimento, apontando alguma aceleração, em torno de 3,0% nos próximos trimestres, acima do chamado crescimento potencial do País. Este seria aquele patamar, chamado também de “balanceado”, na qual a economia cresceria mais impulsionada pela produtividade, sem maiores impactos inflacionários. Estaria em torno de 1,5% a 2,0%. A acrescentar, a reforma fiscal de dezembro passado do governo Trump deve impulsionar ainda mais o crescimento dos EUA em 2019 e 2020, segundo o FMI acrescentando 1,2 ponto percentual neste último ano.
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Neste cenário de crescimento mais forte, inflação já gravitando na meta e mercado de trabalho aquecido, inevitável será uma postura mais cautelosa do Fed, talvez elevando o juro numa velocidade maior, mesmo que não abrindo mão do “gradualismo”. Em junho, na próxima reunião do Fomc, mais um ajuste é previsto, elevando a taxa de curto prazo, de 1,75% a 2,0%. Continuamos no aguardo, com esta elevada em junho, de mais duas, até fechar o ano em torno de 2,5%. Para 2019 seriam mais dois a quatro ajustes, para a taxa fechar, numa normalização, em torno de 3,0% a 3,5%. Difícil saber se isso se confirmará, até porque tudo deverá estar na pendência da “sintonia fina” entre ritmo da economia, mercado de trabalho e inflação. Ou seja, as dosagens de elevação do juro caminharão juntas com os indicadores econômicos dos EUA.
Qual o impacto no Brasil?
Um “novo normal” de política monetária está se configurando na economia norte-americana e no mundo. A liquidez tende a ser outra, os bancos centrais devem começar a “normalizar” suas políticas, elevando taxas, em ritmos particulares, dada a situação das suas economias, e isso, com certeza, deve afetar os emergentes, em especial, os com maiores fragilidades nos seus fundamentos. O Brasil estaria sim neste clube, pelos atrasos das reformas, principalmente da Previdência, colocando em cheque o Teto dos Gastos, e também pelo total ”tiro no escuro” das eleições neste ano.
Sendo assim, nos espera para os próximos meses um cenário de muita volatilidade, muitos sustos, só devendo reduzir se um candidato pró-economia de mercado surgir no horizonte, com chances de ser eleito.
Enquanto isso não acontece, qualquer consideração se torna pura especulação. Estamos navegando em terrenos pantanosos e uma “piscada em falso”…