O momento atual pode deixar receoso qualquer um que está pensando em empreender: enquanto o Brasil ainda ensaia os primeiros passos de sua recuperação econômica, novos possíveis concorrentes surgem a cada dia e a demanda dos consumidores só se sofisticam. Mesmo assim, nunca houve um momento melhor para ter ideias inovadoras – e executá-las.
A análise é do empreendedor e investidor Geoff Ralston. De disrupção ele entende: Ralston foi o fundador de um dos primeiros serviços de e-mail da internet, o RocketMail, que depois seria vendido para a gigante Yahoo!.
“Sim, é uma época fantástica para começar uma empresa. Em 2017, teremos milhares de companhias investidas mundialmente, com um total de centenas de bilhões de dólares aportados”, afirma.
Hoje, o empreendedor passou para o outro lado do balcão. Ralston é sócio da Y Combinator, considerada por muitos a melhor aceleradora do Vale do Silício. De acordo com a Forbes, ser aceito na YC é ainda mais difícil do que ser admitido na Universidade de Harvard.
Um dos grandes diferenciais da aceleradora é ter criado um novo modelo para financiar startups em estágio inicial. Duas vezes por ano, a Y Combinator investe 120 mil dólares (na cotação atual, cerca de 389 mil reais) em diversas startups, que passam três meses no Vale do Silício.
Nesse período, há um trabalho intensivo de modelagem do negócio e de preparação para o pitch com investidores. O final do ciclo é o Demo Day, dia de apresentação para uma audiência selecionada. Depois da aceleração, a YC e seus acelerados continuam a se ajudar ao longo da trajetória dos negócios.
Desde 2005, a Y Combinator já investiu em mais de 1.400 startups, com valor de mercado combinado de 80 bilhões de dólares. Um exemplo brasileiro marca presença entre elas: a startup Quero Educação, antigamente chamada de Quero Bolsa (leia o relato dos empreendedores sobre como foi a aceleração).
Dez startups do time da YC estão avaliadas hoje em mais de 1 bilhão de dólares (os conhecidos “unicórnios”). Os negócios investidos incluem empresas famosas, como Airbnb, Dropbox, Reddit e Twitch.
Ralston está no Brasil para participar do CASE 2017, um dos maiores eventos de startups da América Latina. Em entrevista antecipada ao site EXAME por e-mail, o empreendedor e investidor falou sobre sua visão do mercado atual de startups, sobre oportunidades de inovação no Brasil e sobre o que ele analisa antes de investir em um negócio pela Y Combinator.
“Já vemos um número crescente de companhias bem legais nascidas no Brasil”, diz Ralston. “Sempre há obstáculos a serem superados, mas espero que o sucesso e a influência cada vez mais presentes no país façam com que tais barreiras possam ser derrubadas para a próxima leva de startups.”
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:
EXAME – Qual a sua visão sobre o mercado atual de startups? Você acha que estamos vivendo a melhor época para ter ideias e criar negócios inovadores?
Geoff Ralston – Sim, é uma época fantástica para começar uma empresa. Em 2017, teremos milhares de companhias investidas mundialmente, com um total de centenas de bilhões de dólares aportados. Junte a isso o investimento de 100 bilhões de dólares do VisionFund, do Softbank e os vários ICOs [oferta inicial de moedas] e concluiremos que a quantidade de capital disponível é surpreendente.
Eu pessoalmente acredito que tais fatos indicam a extraordinária presença de inovação por todos os lados. Apenas a Y Combinator espera investir em entre 250 a 300 negócios por ano.
EXAME – Quais setores terão um impacto ainda maior nos próximos anos, e por quê?
Eu evito fazer previsões em termos de setores particulares. Assim que você prevê que algo será grande, ele já não será mais. Antes era a internet das coisas, agora é inteligência artificial e logo será realidade aumentada e virtual. Inquestionavelmente, esses três domínios se referem a tradições seculares, e veremos uma inovação extraordinária em cada um deles. Ou, de forma provavelmente mais correta, a inovação que veremos nos próximos anos será tão generalizada quanto profunda.
Fonte: “Exame”
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