Ao completar um ano na Presidência da República, Dilma Rousseff teve 365 dias para mostrar que suas qualidades técnicas foram mais importantes que as políticas para administrar o país e fazê-lo atravessar uma crise generalizada nas chamadas nações desenvolvidas sem que seus efeitos funestos castigassem significativamente a população brasileira, como se poderá verificar a partir da página 4 da edição de Brasil Econômico, com a série de reportagens que disseca o primeiro ano da primeira mulher a assumir o posto de chefe de Estado e de governo do Brasil.
A extrema habilidade política atribuída a seus antecessores Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso – que ficaram 16 anos no poder, metade cada um – praticamente indeferia a qualquer postulante ao cargo não ter o mesmo atributo. Lula e FHC, além disso, têm carisma. Este, sobretudo, com intelectuais.
Aquele, principalmente, com a gente mais simples. Mesmo depois de eleita, Dilma padecia o estigma de só ter chegado aonde chegou por causa de Lula.
Na edição de 29/12/2011, o leitor Ricardo Lopes analisou na Seção de Cartas do Brasil Econômico por que José Serra foi derrotado nas duas eleições a presidente da República a que concorreu: “Serra foi o candidato da situação em 2002, quando a população queria mudança. E foi o candidato da mudança em 2010, quando a população queria continuação”.
Dilma foi a candidata da continuação de Lula. Herdou uma estrutura de 37 órgãos de assessoria direta com distinção de ministério, alguns chamados de secretaria mas com peso de ministério mesmo, e vários ministérios cuja função mesmo é de secretaria.
A presidente poderia valer-se da fama de “técnica” para enxugar logo de cara essa estrutura. Foi política e deixou o tempo encarregar-se de aplacar determinados ânimos, antes de promover uma reestruturação, que deve ser feita a partir de janeiro.
Foi técnico-política ao substituir ministros apanhados em maus lençóis e manteve sua fama de má quando julgou que era preciso fazer valer sua opinião, notadamente em assuntos que conhece bem, como os ligados à infraestrutura.
Para quem vaticinava que, por seu histórico de militante de esquerda, Dilma seria mais estatizante que Lula, deve ter sido uma surpresa constatar que a privatização de aeroportos, ainda que parcial, começou a ser feita em seu governo.
Técnica ou política, o que importa é que a Presidência seja exercida com a determinação de que seus atos beneficiem um conjunto cada vez maior de cidadãos brasileiros.
O que menos interessa à população é se Dilma tem um perfil mais técnico ou mais político. Sua avaliação é feita no dia a dia com as demonstrações de firmeza na condução ética do governo federal e à medida que suas decisões se transformem em bem comum.
Fonte: Brasil Econômico, 30/12/2011
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