Escrevo a caminho de Dubai, para uma reunião de um grupo mundial de líderes educacionais, o Atlantis Group, que integro desde 2017. Lá também ocorrerá, no próximo domingo (24), a premiação do melhor professor do mundo, organizado pela Fundação Varkey.
Uma professora brasileira, a Débora Garofalo, estará lá concorrendo pelo prêmio. Não é a primeira representante do nosso país a estar entre os dez melhores, afinal, tivemos no último ano um diretor de escola de São José do Rio Preto, o Diego Mahfouz, que transformou o clima de aprendizagem e de trabalho de uma das piores unidades educacionais da cidade paulista.
Num Brasil hoje tão rancoroso e imbuído de visões polarizadas e anticientíficas no campo das políticas públicas, por que é tão importante relembrar o trabalho desses professores?
Primeiro, porque não é todo dia que temos realizações a celebrar em educação. O processo de ensino e aprendizagem acontece dentro de cada escola e ali o que mais importa é a qualidade do professor e a atuação do diretor.
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Apesar de avanços tímidos na qualidade, algo vem ocorrendo nas salas de aula, ainda não totalmente capturado nos indicadores educacionais. Professores não estão caindo na armadilha da vitimização, tão cara a certos setores da imprensa, e estão mostrando suas boas práticas educacionais, mesmo em contextos desafiadores.
Segundo, porque a política educacional deveria se inspirar no exemplo desses profissionais e pensar em mecanismos de escalar suas práticas, investindo tanto na formação do professor, ainda muito distante das demandas da sala de aula, como na atratividade da carreira, muito baixa, dados os salários e o reduzido reconhecimento social.
Mas há certamente algo que distingue o caso de Débora Garofalo, professora de tecnologias da Escola Municipal de Ensino Fundamental Almirante Ary Parreiras, na capital paulista. Utilizando o lixo, jogado nas ruas das favelas de São Paulo, seus alunos o transformaram em soluções para os problemas da comunidade. Trata-se do desenvolvimento de uma das competências mais importantes para o século 21, nestes tempos de quarta revolução industrial, a resolução colaborativa e criativa de problemas.
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Além disso, o trabalho desenvolvido pela professora, a chamada robótica de sucata (ou “junk robotics”), acabou influenciando o currículo municipal de São Paulo, o que permitirá que seja escalado e transformado em política pública.
Estarei em Dubai torcendo pela professora, que certamente merece o reconhecimento. Há inúmeros outros mestres, nas mais diversas escolas, que também se sentirão homenageados por meio de Débora. Levo-os comigo no coração.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 22/03/2019