Seria fácil se a pergunta fosse: o que é uma escola de qualidade? Todos nós – ou pelo menos muitos de nós – sabemos o que é uma boa escola, mesmo se não tivermos estudado em uma delas. É fácil saber o que caracteriza uma boa escola. Mas a pergunta aqui é outra: o que é uma rede escolar de qualidade? Essa é a pergunta que o prefeito precisa responder. Ou melhor, este é o desafio do prefeito: estabelecer e operar uma rede escolar de qualidade.
Imagine que você é um prefeito de um município, com várias escolas, uma muito boa, umas mais ou menos e muitas ruinzinhas. Como prefeito, normalmente você estabelece uma regra prática e de bom senso: as crianças se matriculam na escola mais perto de sua casa. Mas e se um pai disser: eu não aceito a regra, quero que meu filho se matricule na escola X, pois ela oferece melhor ensino. E se forem 100 pais? E se forem todos os pais?
Infelizmente ainda não chegamos nessa situação – nem de termos escolas tão boas assim para serem cobiçadas – nem de termos uma população tão consciente de seus direitos e tão capaz de fazer cobranças desse nível.
A questão aqui é: qual é a responsabilidade do prefeito, o papel do secretário e a função do diretor. A responsabilidade do prefeito é pelos resultados: cabe ao prefeito oferecer a todos os cidadãos vagas em escolas de boa qualidade. Portanto, a rede de ensino só é boa quanto todas as escolas são boas. Ter uma escola modelo, escola padrão ou escola experimental não é vantagem. A responsabilidade do secretário é criar condições para que todas as escolas possam operar com qualidade. E a função do diretor é fazer isso acontecer na sua escola.
O que vemos hoje, na maioria nos municípios está longe disso. Prefeitos costumam, no máximo, se vangloriar de uma escola “modelo” ou escola padrão construída por algum antecessor há vários anos – esquecendo-se do resto dos eleitores. Secretários muitas vezes se ocupam do dia a dia das escolas, tomando o lugar e a iniciativa dos diretores. E esses, para não incomodar, se retraem, deixando o espaço para a secretaria divertir-se com seus programas e ideias frequentemente mirabolantes, e quase sempre sem continuidade.
Durante a eleição os prefeitos pensam em todos os cidadãos – afinal são eleitores atuais ou potenciais. Depois dela se preocupam no máximo com os alunos da rede municipal – às vezes apenas com uma ou outra escola, ou com os interesses de seus eleitores – ou de seus cabos eleitorais. Quem melhora escola é o diretor, liderando seus professores. Quem pode dar condições para a escola funcionar é uma secretaria de educação bem estruturada e bem gerenciada. Ao prefeito cabe estabelecer metas, escolher um bom gestor, dar-lhe autoridade, meios de trabalho e cobrar resultados.
Fonte: “Veja”, 8 de setembro de 2016.
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