Existe um tema sempre omitido nas discussões dos “direitos” que centenas de servidores públicos federais estão reivindicando neste momento em todos os estados do país.
E que poderia muito bem ser utilizado pelos grevistas como moeda de troca em suas discussões com o governo federal. Sim.
De uma hora para outra, o recurso das greves (que parecia ter caído no esquecimento ao longo dos oito anos de governo Lula) volta com força total em 2012.
São pelo menos 40 greves em todo o país (isso se contarmos apenas como uma greve as paralisações nas universidades federais de todos os estados e nas agências reguladoras).
Todos os funcionários reclamam de defasagens salariais e muitos exigem que os órgãos nos quais estão lotados convoquem concursos públicos para dividir a carga de trabalho. Todos se queixam que seus movimentos se perpetuam em função da insensibilidade do governo em ouvir e atender às reivindicações justas dos “trabalhadores”.
Também todos (ou muitos deles) exigem a implantação de um plano de cargos e salários que lhes dê uma projeção de carreira e, claro, benefícios progressivos ao longo da vida profissional.
Tudo muito justo e correto se não fosse um problema básico: de onde sai o dinheiro para pagar a conta? Os companheiros em greve, claro, não estão preocupados com isso. Mas deveriam.
Afinal de contas, o dinheiro dos salários dos servidores tem uma origem comum: os impostos recolhidos pelos cidadãos do país.
Para dar tudo o que as categorias em greve reivindicam e ainda cumprir as dezenas de planos a que se propõe para acelerar o desenvolvimento, o governo teria que ampliar a carga tributária a limites muito acima do suportável pelas pessoas e empresas.
Dias atrás, o dirigente de uma empresa francesa que opera no Brasil lembrava que, em seu país, existe um ditado segundo o qual “imposto demais mata o imposto”.
Ou seja: se o governo desejar aumentar a arrecadação para dar conta de tudo o que os servidores em greve reivindicam, verá a arrecadação despencar, e aí não haverá dinheiro para pagar ninguém.
A solução, claro, estaria no crescimento da economia – que permitiria a ampliação do recolhimento de impostos. O problema, nesse caso, é que ampliar despesas de custeio com base numa projeção de arrecadação equivale a transferir para as gerações futuras responsabilidades por benesses irresponsáveis distribuídas no presente.
Os funcionários públicos poderiam, com certeza, aumentar sua capacidade de negociação. Bastaria para isso oferecer ao governo, como contrapartida às suas reivindicações, o fim do dispositivo que lhes assegura receber o mesmo salário da ativa depois da aposentadoria.
Ou, ainda, abrir mão da estabilidade no emprego e de outros mecanismos que custam caro para o cidadão e impedem a solução do problema. O problema, no fundo, é de natureza aritmética. É só fazer as contas.
Fonte: Brasil Econômico, 21/08/2012
Concordo plenamente com a afirmativa. Ãs benesses não podem ser custeadas com o sacrifício do trabalhador da iniciativa privada. Penso que deveria haver uma avaliação de desempenho no trabalho público, como ocorre no trabalho privado. Por que será que a aposentadoria pública é o salário integral e aposentadoria privada é pelo teto salarial. Estamos quebrando o país que estava se reeguendo com o Plano Real. Não vamos deixar isso acontecer…