Muitos têm sido os comentários referentes à visita do presidente norte-americano ao nosso país, em regra favoráveis. Não direi que tenha sido o acontecimento do século, mas que foi útil para ambos os países, e, dada a ampla publicidade que a cercou, permitiu que a nação a acompanhasse em seus lances principais. A presença de sua família, incluindo as filhas menores, deram a um ato de Estado alguma coisa além de uma cerimônia estritamente protocolar. De outro lado, a postura do governo brasileiro imprimiu ao evento o tom adequado. As duas partes, a que visitava e a visitada, souberam dar ao fato diplomático o devido relevo, sem exageros. Por isso prefiro dizer ter sido útil o sucesso para ambas. Até onde posso transmitir minhas observações, a despeito da natural brevidade, a acolhida foi espontânea e suponho não exagerar se disser cordial.
Nesse dado imaterial residiu a conveniência e oportunidade da visita, ainda que nada se dissesse, nem seria de mister, quanto à gaucherie diplomática do maior e melhor dos presidentes de todos os tempos ao escolher o iraniano Mahmoud Ahmadinejad como confrade privilegiado do Brasil, fato que excedeu os limites do mau gosto. Ninguém ignora que em política externa, como na política em geral, a amizade não é moeda prevalente, ainda que não lhe faltem algumas gotas aqui e ali a dar-lhe o perfume da nobreza; os interesses, de modo geral, são predominantes e eles não são apenas relevantes, mas legítimos. De mais a mais os interesses nacionais tanto são contraditórios como coincidentes em doses variáveis, de modo que é plural o mundo das nações e suas relações mudam sem parar; acasalar-se com o Irã, que mantém uma quizília notória com o mundo ocidental, em termos nucleares, não chega a ser indicativo de sabedoria, tanto mais quando se ele é avançado em pesquisas nucleares, lembra a idade da pedra em outros setores. Disso é amostra a pena de apedrejamento de mulheres…
Pois essa espécie de cicatriz que enfeiava a face da nação, sem que uma palavra fosse dita, desapareceu como se uma esponja apagasse a marca visível nas belas linhas do Itamaraty. Por fim, é de evidência solar, cada Estado tem o dever de cuidar de seus interesses, sem esperar que outros o façam. Outrossim, depois das visitas e em razão delas, normalmente, aparecem os resultados, maiores ou menores. De qualquer sorte, sem jogar fogos de artifício, não hesito em repetir que considero útil a visita do presidente Obama à América Latina. Há muita coisa a fazer e havendo, além do interesse, um pouco de simpatia, o fazer fica mais fácil.
Não me furto de indicar, porém, que diplomata de alta qualificação, que foi embaixador na China, Alemanha, Áustria e Estados Unidos, escreveu que “a visita foi muito além do que poderia imaginar mesmo o mais ardoroso propugnador da superação de ultrapassados antagonismos e do lançamento de renovada aproximação”; e adiantando que “é cedo para considerar esta visita histórica, não há como negar que ela configura… uma quase revolução…”. Tratando-se de opinião do embaixador Roberto Abdenur, “a inevitabilidade de uma nova parceria” é de ser considerada em sua inerente autoridade.
Para encerrar, já que comecei falando na gaucherie da escolha do Irã para sócio privilegiado do Brasil pelo ex-presidente Luiz Inácio, não posso silenciar sobre a nova e nítida orientação de sua sucessora, exatamente em assunto envolvendo aquele país.
Fonte: Zero Hora, 28/03/2011
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