O governo Temer estreou há um mês aos trancos e barrancos deixando perplexos e atarantados os muitos brasileiros que queriam ver encerrados os 13 anos de desequilibrada hegemonia do PT e, principalmente, o abismo econômico que se aprofundava no mandato do disparate ambulante que é a sra. Dilma Rousseff.
A perplexidade e as incertezas sobre os rumos que Temer dará ao País nos próximos dois anos – uma vez aprovado pelo Senado o afastamento definitivo de Dilma – não se dissiparam ainda e o cenário político permanece no mínimo imprevisível.
No terreno da economia e dos negócios em geral, mais do que os passos e fatos do dia a dia, o que importa são as expectativas. Tanto as negativas, como as positivas. Não há como medir quanto o afundamento da economia, nos meses que antecederam a posse de Temer, se deveu à queda objetiva do PIB ou ao aumento subjetivo da expectativa, entre os agentes econômicos, de que a presidente Rousseff chegara à completa incapacidade de governar e de apresentar qualquer saída para a economia.
O governo Temer ainda não adotou nenhuma medida objetivamente capaz de limpar do horizonte os vaticínios de enormes dificuldades ou capaz de apontar diretamente para o saneamento das contas fiscais, das contas cambiais, da política de juros, da política de investimentos, de reerguimento,enfim, da economia. Na verdade, Meirelles na Fazenda, Goldfajn no Banco Central (BC), Pedro Parente na Petrobrás, Maria Silvia no BNDES, Ana Paula Vescovi no Tesouro se limitaram a manifestar boas intenções fundadas em bons currículos e a fazer declarações acatadas positivamente pelo mercado.
Mas foi o que bastou para que a curva das expectativas deixasse de cair, passasse a se nivelar em muitos setores e decididamente começasse a apontar para o alto em vários outros. Líderes de áreas empresariais, do varejo, da produção e da logística começam a ver a chamada “luz no fim do túnel”– a verdadeira, não a do farol do trem que vem vindo, como se costumava dizer nas últimas semanas da sra. Rousseff. Alguns já falam abertamente em retomada de investimentos, embora a Fiesp considere que haverá no setor industrial uma queda em relação ao ano passado.
Mesmo a imprensa estrangeira, que em parte comprara a teoria petista de que estaria havendo um golpe de Estado no Brasil e que o País poderia mergulhar numa convulsão social, tende a olhar mais atentamente e mais longe. O Financial Times, de Londres, dizia antes de ontem que, “devagar e muito cautelosamente, os economistas atrevem-se a se mostrar mais otimistas sobre a maior economia da América Latina”. E aponta que pela terceira semana consecutiva melhoraram os prognósticos para 2016 e 2017 da economia brasileira.
A melhoria de expectativas já se refletiu no último relatório Focus do BC. Para 2016 a mediana das projeções de queda do PIB passou de -3,71% para -3,60%. E para 2017 a mediana de crescimento passou de 0,85% para 1,00%. A expectativa para a inflação (IGP-M) passou de 7,74% para 7,95% em 2016, mas para 2017 recuou de 5,70% para 5,67%. No caso da produção industrial, a queda para este ano deverá ser um pouco menor do que se previa (-5,87%, ante -5,90%), mas o crescimento será um pouco menor em 2017 (+0,80%, ante +1,00%).
Em suma, reunindo todas as informações disponíveis sobre as expectativas, elas nos preparam para uma estabilização da plataforma da economia ao longo deste ano, seguida de tímida retomada do crescimento a partir de 2017. Nada que entusiasme nem que descarte o fantasma de um crescimento muito baixo por anos seguidos.
Mas então por que essa virada nas expectativas do mercado em apenas 30 dias do novo governo? Pela credibilidade das pessoas chamadas a gerir a economia, que se guiam pelo manual reconhecido e não por quimeras salvacionistas que mal encobrem o objetivo de se eternizar no poder.
Fonte: O Estado de S.Paulo, 16/06/2016.
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