Vá além da obrigação de votar
Esperamos muito da política e acabamos fazendo muito pouco pela democracia. Durante décadas, vivemos a utopia de que o direito de voto seria a solução para governos incompetentes e alheios às reais necessidades das pessoas. Passamos a votar e, paradoxalmente, acabamos por eleger uma plêiade de corruptos, desonestos e despreparados. Ou seja, o voto, embora essencial à democracia, não lhe é uma condição suficiente.
Engajamento
O fato é que, se realmente quisermos uma eficaz sociedade democrática, teremos que mudar nossa postura cívica. Não podemos mais simplesmente delegar nosso futuro a representantes ocos, venais e irresponsáveis. Infelizmente, nossos partidos – muitos dos quais ganham fortunas do fundo partidário – viraram rasas empresas eleitorais, focadas no lucro das urnas. Sem escrúpulos, usam e abusam de um marketing político mentiroso, iludindo a boa-fé do povo em favor de candidatos mal-intencionados. Em outras palavras, a chamada democracia representativa é, no Brasil, um teatro de personagens sem brilho.
Ora, temos que abandonar a ingenuidade de pensar que um dia o sistema irá se autorregenerar. Não vai. E não vai porque a classe política, em sua larga maioria, não dispõe da coragem, independência e da consciência crítica necessária para romper com as velhas estruturas que aí estão. Por conseguinte, a tendência é a manutenção dessa politicalha que apequena moralmente o Brasil e pune os cidadãos de bem com uma vida pública de péssima qualidade. Nesse contexto defectivo, os anos passam, oportunidades são perdidas e, novamente, o país afunda em uma grave crise econômica, fazendo o futuro repetir o passado.
Sim, é possível alterar a ordem dos acontecimentos. Para tanto, mais do que querer, teremos que fazer. O que muda a realidade é a ação concreta fruto do bom pensamento, pautada por razões superiores. Portanto, temos que ir além do voto e passar a participar – ativa, compromissada e diariamente – das questões de interesse público. A política brasileira só vai mudar com a energia de uma sociedade civil vibrante que não tenha medo de assumir seu destino democrático. A democracia, antes de políticos, precisa de bons cidadãos, pois é a força dos homens e mulheres de bem o grande catalisador das transformações práticas que o Brasil tanto precisa.
Corrupção
Vivemos um momento político crítico. A decepção, com tudo que estamos vendo, é grande e profunda. O caráter sistêmico da corrupção governamental faz pensar que a política é um grande balcão de negócios escusos em favor de barões imorais. Salvo exceções cada vez mais raras, o fel da ilicitude parece contaminar o sistema nervoso central, irradiando-se por todo o tecido político nacional. Com tantos canalhas e canalhices, não tem sido fácil acreditar na decência e na dignidade das instituições. Apesar de tudo, precisamos ir adiante; não podemos desistir, pois estamos no curso de um decisivo processo histórico que decidirá a natureza da democracia brasileira.
Os corruptos e corruptores são uma poderosa minoria organizada. Para o regaste da moralidade da democracia, precisaremos aglutinar as forças da maioria dispersa em prol de um projeto comum de nação a ser capitaneado por líderes inspiradores que ainda não se descobriram políticos. O Brasil está cheio de pessoas brilhantes e capazes de ajudar nosso país a construir uma sociedade virtuosa. Vens ou ficarás na poltrona?
Fonte: O Estado de Minas, 30/09/2016.
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