Escutamos sobre a necessidade de reciclagem há décadas. “Reciclar papel evita o corte de mais árvores” e “reciclar alumínio economiza energia” são frases que recorrentemente são proferidas por aqueles que levantam essa bandeira. A triste verdade, contudo, é que muitos materiais enviados para usinas de reciclagem nunca são reciclados, sobretudo o plástico. Tanto que até o Greenpeace anda dizendo: “A reciclagem de plástico é um beco sem saída”.
Anos atrás, o escritor especialista em ciência, John Tierney, foi recordista de hates ao escrever uma matéria para a revista New York Times intitulada “Reciclar é lixo”. Tierney afirmou (e reitera até hoje) que a reciclagem é uma indústria que usa mão de obra cada vez mais cara para produzir materiais que valem cada vez menos.” Para ele, seria mais inteligente despejar nosso lixo em aterros sanitários. Isso porque, não obstante a ideia de que aterros sejam poluidores, as fortes regulamentações sobre esse tipo de atividade garantem que eles tenham barreiras protetoras que impeçam vazamento para lençóis freáticos. Tierney também observa que, eventualmente, pelo menos nos EUA, essas áreas são transformadas em parques, pistas de esqui e campos de golfe.
A mídia alarmista sempre deu bastante publicidade para o receio de que não teríamos mais espaço para o aterramento de lixo, ao que o escritor utiliza da seguinte analogia em resposta: “se você pensar nos Estados Unidos como um campo de futebol, todo o lixo que vamos gerar nos próximos 1.000 anos caberia dentro de uma pequena fração da linha de uma polegada”.
Depositar lixo em aterros costuma ser muito mais barato do que reciclar, mas a pressão estabelecida pelos sacramentos da religião verde tem uma força contra a qual é difícil se opor. Em Nova York, por exemplo, os recicláveis devem ser colocados no meio-fio entre 16h e meia-noite, depois de serem enxaguados e separados por tipo de material. O papel, veja só, deve ser amarrado com barbante em feixes de no máximo 18 polegadas. De fato, as regras complicadas não facilitam o comportamento “verde” esperado dos cidadãos.
No entanto, se você enxaguar uma garrafa de plástico em água quente, o resultado líquido libera mais dióxido de carbono do que se você a jogasse no lixo. Considerando que a maior parte do plástico sequer pode ser reciclada, Tierney reiteradamente questiona os ambientalistas sobre as possíveis soluções. A resposta é rápida: “parar de produzir plástico”, conforme defendeu John Hocevar, do Greenpeace.
Contudo, o plástico é útil e, geralmente, sua criação é menos poluente do que suas alternativas. Um canudo de metal, de acordo com Tierney, precisa ser usado pelo menos 150 vezes para poluir menos que um canudo de plástico. Além disso, proibir o plástico tornará a vida dos indivíduos bem pior, uma vez que esse material, pelo preço, é componente de muitos itens essenciais do dia a dia das pessoas. Embasando seu argumento, o especialista cita o caso de Los Angeles que, para aumentar o recolhimento do lixo reciclável, adicionou 400 caminhões (poluidores) à rota de coleta municipal.
Nesse sentido, fica claro que a reutilização de materiais é uma boa maneira de reduzir impactos ambientais, mas apenas quando esse processo é menos danoso do que a própria criação dos materiais. Muitas vezes, por exemplo, agentes contaminantes – como o chumbo – permanecem no alumínio após o processo de reciclagem sem sequer serem notados pelas usinas. Em Taiwan, o aço reciclado utilizado em centenas de edifícios envenenou os moradores com radiação gama advinda de contaminação por cobalto-60.
Quanto ao óleo, apesar da obviedade de, por si só, ser um agente poluente, sua reciclagem gera subprodutos ainda mais tóxicos. O processo de reaproveitamento dessa substância passa por um processo que utiliza argila ácida que, ao mesmo tempo em que retira as impurezas, produz uma lama altamente tóxica. Tal lama precisa ser incinerada, o que também emite agentes danosos no meio ambiente.
Assim, um dos maiores problemas quando falamos em reciclagem é o que está por trás dela. A mentalidade de que estamos salvando o planeta por estarmos separando o lixo acaba por cegar muitas pessoas para os reais custos desse processo e, pior, convencidas de que está tudo bem, elas relaxam e desperdiçam em outras áreas.
A conclusão que fica é a de que precisamos avançar muito na questão da reciclagem e analisar meticulosamente o seu custo-benefício. Uma coisa, entretanto, é certa: muitas das regras impostas são arbitrárias e tolas e servem, em última análise, para políticos e grupos ativistas justificarem para si mesmos que estão salvando o planeta.
Por Juliana Bravo – Associada II do Instituto Líderes do Amanhã.