Juntas, as cifras pagas em propinas, divulgadas pelas delações da Odebrecht e da JBS, são impressionantes. A Associação Contas Abertas fez as contas. Os números mostram exatamente o que poderia ter sido feito em favor da população brasileira com os mais de R$ 3 bilhões que os empresários admitiram ter destinado à corrupção.
Com o dinheiro da corrupção que a Odebrecht e a JBS afirmou ter distribuído para políticos e autoridades seria possível:
Construir 1.579 creches, que poderiam atender quase 253 mil crianças
Comprar cerca de 24.440 ambulâncias
Implementar 11.800 quadras poliesportivas
Adquirir 16.666 ônibus escolares
Construir quase 2.143 Unidades de Pronto Atendimento
Construir 7.500 Unidades Básicas de Saúde
Em outras comparações, os R$ 3 bilhões vazados pelos ralos da corrupção também equivalem a aproximadamente 55 mil casas populares do programa Minha Casa, Minha Vida, por exemplo.
Os valores pagos em propina são tão significativos que superam os investimentos realizados por 36 dos 42 órgãos superiores que aplicaram em obras e na compra de equipamentos em 2016. Os R$ 3 bilhões são maiores, por exemplo, do que as aplicações dos ministérios da Justiça, Esporte, Ciência e Tecnologia e do Turismo.
Os dados da Contas Abertas ainda mostram que a propina poderia pagar mais de um ano de execução do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), com base no que foi desembolsado em 2016. O objetivo do programa é expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica no país.
De acordo com o jornal “O Estado de S. Paulo”, a JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, afirmou ter entregue R$ 1,4 bilhão em propinas nos 42 anexos de seu acordo de delação premiada. Os valores nominais de 214 pagamentos constam dos depoimentos e planilhas apresentados pelos delatores envolvendo 28 partidos. Em valores, o grupo concorre com a Odebrecht, cuja delação listou R$ 1,68 bilhão em repasses para 26 partidos.
Os repasses envolvendo a JBS podem ser maiores ainda se forem consideradas todas as doações eleitorais legais. O total relatado no anexos é mais que o triplo do que Joesley Batista havia admitido ter pago como propina – R$ 400 milhões – e mais do dobro do que afirmou Ricardo Saud, ex-diretor de relações institucionais da empresa (R$ 600 milhões).
Para o secretário-geral da Contas Abertas, Gil Castello Branco, é importante relacionar o montante de propinas pagas com assuntos próximos ao cidadão comum, que, por vezes, não tem consciência da representatividade do montante.
“A sociedade associa corrupção a algo abstrato, a um crime contra o patrimônio, contra o Estado, ao tipificar como crimes de corrupção, peculato e tráfico de influência, por exemplo. É preciso relacionar esses crimes contra algo que lhe é mais próximo, como creches ou transporte escolar, e ficar sua indignação mais profunda a esses crimes e não somente aos criminosos que roubam relógios ou automóveis “, defendeu.
Para o economista, essa soma impressionante de propinas evidencia que o Brasil perdeu o referencial dos custos de suas obras. “Se há ‘gorduras’ de superfaturamentos nesse montante – e é evidente que há – qual seria o custo real das obras públicas, executadas por empreiteiras, sem esse sobrepreço?”, indagou.
Fonte: Contas Abertas.
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