Há uma fronteira tênue entre o ceticismo e a justiça. O ceticismo requer mais a dúvida que a crítica (pré-determinada) e a justiça não pode descartar a possibilidade de reversão de nosso pré-julgamento quando tivermos motivos suficientes. O equilíbrio entre esses dois princípios não significa que não tenhamos valores e sejamos imparciais e a imparcialidade é tão nefasta porque é ingênua. Não apoiar a eleição de um candidato político, do qual claramente discordo não significa que defendo sua inelegibilidade.
Exceto pela possibilidade de Francisco Everardo Oliveira Silva, o “Tiririca”, ser analfabeto, que de acordo com a lei é inelegível, não sou contra sua candidatura e eleição. Primeiro porque a democracia não é um sistema que parte da premissa da necessidade de boa qualidade do político, mas sim que a disputa levaria à busca individual por qualidade que, coletivamente, poderia ser consagrada. Portanto, a democracia se baseia na crença de que o processo é que garante a qualidade dos resultados ou tende a mesma.
Se partirmos de um ponto de vista elitista, mesmo que essa elite seja intelectualmente superior, não estaremos privilegiando um sistema similar à economia de mercado e sim partindo da premissa de que eleitores são incapazes de decidir quem deve representá-los. Esta posição limitadora também é inviável porque demanda um mínimo qualitativo para nossos representantes. A tirar pelos projetos de lei que são criados, não vejo como isso possa passar. Há leis claramente estúpidas e burras.
Dentre as críticas que já ouvi, a mais recorrente é que o povo votou por escárnio. Ora, e se for? Não é seu direito? Acho ingênua a posição de que aí os valores democráticos estariam sendo ameaçados ou, pelo menos, desrespeitados. O caso não é em relação à democracia, ela apenas refletiria uma situação anterior, de descontentamento talvez. E quem pode garantir que não haja mesmo um ponto positivo nisto tudo ou resultado que possa valer a pena?
Jon Gnarr Kristinsson é um conhecido comediante islandês que neste ano também foi eleito prefeito da capital Reykjavík. Seu partido, chamado de “O melhor partido” tem piadas como plataformas políticas: toalhas gratuitas nas piscinas e um urso polar para o zoológico da cidade. Se isto não é escárnio, não sei o que é. Este tipo de fenômeno político tem a ver com o desencanto e cansaço com a política tradicional, que no caso da Islândia foi afetada pela crise de 2008. Mas, e o nosso Tiririca? Pensem: pode haver maior palhaçada no cenário político nacional que um Plínio de Arruda Sampaio, candidato do PSOL à presidência da república propor invasões de propriedades para minimizar o problema habitacional?
Talvez tudo isso seja um claro sinal de amadurecimento político na medida em que o “menos palhaço” tenha recebido mais votos…
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