Diferentes parcelas do pensamento político nacional – conservadores, liberais, social-democratas, democratas-cristãos, comunistas, socialistas etc.– parecem convergir num ponto: a necessidade de renovar os padrões da política.
Essa identificação de propósitos tem se acentuado sob a sombra da paisagem “caótica” à vista: importantes quadros da política e da administração (pública e privada) estão sob investigação judicial, escândalos se sucedem, enquanto a economia abre um gigantesco buraco social, com desemprego crescente, inflação chegando aos dois dígitos e imagem do governo rente ao chão.
[su_quote]A política tem reformado palcos e buscado novos atores para realização de suas tarefas[/su_quote]
Essa moldura ganhou contornos nos últimos tempos. A expansão econômica, de um lado, e a diminuição do
emprego no setor secundário em proveito do setor terciário, de outro, têm contribuído para arrefecer a força das grandes estruturas de mobilização sindical.
A democracia representativa passa a ser repartida por entidades intermediárias, com prejuízo para a instituição política tradicional, caracterizada por partidos fisiológicos.
A política tem reformado palcos e buscado novos atores para realização de suas tarefas, sob a crença de que o monopólio da ação partidária é um fracasso. Daí a constatação de que a política procura se reformar, redistribuir, alterar vetores.
O “cidadanismo”, que se expande nas ondas da promoção dos direitos humanos e de elevação educacional das massas, motiva a multiplicação de novos polos de poder, que se fortalecem nos estratos do meio da pirâmide social para baixo.
É visível a nova articulação social em marcha. A força emergente nasce nos grupamentos organizados, numa “nova classe” integrada por segmentos do empresariado médio, pela estrutura do comércio das cidades-polo do interior, por correntes religiosas que se espalham por todos os lados, levando mensagens de solidariedade e esperança.
Essa nova vanguarda é reforçada por profissionais liberais, professores, comerciantes e comerciários, donas de casas, jovens, núcleos em defesa da condição feminina e de transgêneros. Agrupam-se em torno de um poder ascendente, das margens para o centro. Essa é a novidade capaz de estabelecer um novo rumo às regras ditadas pelos poderes constituídos.
Sabe-se que há uma convergência entre todos os eixos do pensamento nacional em torno da reforma da política. Daí a busca por perfis que encarnem o escopo da renovação, não havendo necessidade que tais figuras sejam militantes. Até poderão atrair interesse os que se apresentem como antipolíticos.
Basta ver os nomes que, ao lado de antigos como Marta Suplicy, começam a despontar como pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo: José Luiz Datena, João Doria, Celso Russomanno, entre outros. Os novos têm algo em comum, um viés asséptico funcional, parecendo encarnar o contraponto ao obsoleto, desgastado, corrompido.
É provável que a campanha de 2016 seja o primeiro movimento político a descortinar uma efetiva renovação. A abordagem ideológica tende a ser totalmente esquecida, dando lugar ao discurso urbano, calcado na realidade das comunidades. A ação voltada para a conquista do poder terá como foco a micropolítica das regiões.
Em “Assim falou Zaratustra”, Nietzsche expressa um pensamento que cai bem no momento: “Novos caminhos sigo, uma nova fala me empolga; como todos os criadores, cansei-me das velhas línguas. Não quer mais, o meu espírito, caminhar com solas gastas”.
Fonte: Folha de S. Paulo, 5/8/2013
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