2015 foi um ano tenebroso para o emprego no Brasil, com o fechamento de 1,3 milhão de postos de trabalho. A má notícia é que tudo deve piorar no ano que vem. A análise é do maior especialista brasileiro em relações de trabalho e recursos humanos do Brasil. O professor da USP José Pastore, doutor honoris causa em ciência e PhD em sociologia, espera uma elevação da taxa de desemprego para cerca de 10% em 2016, o que poderá significar cerca de 10 milhões de brasileiros desempregos. Professor, pesquisador e articulista, Pastore diz que as demissões atingem principalmente os trabalhadores de menor qualificação e vê mudanças na própria natureza do trabalho, que está criando novas demandas por parte dos empregadores. Confira a entrevista de Pastore à negócios.
Negócios: O que explica o avanço do desemprego?
José Pastore: Gastos excessivos do governo forçaram a elevação dos juros, inibindo os investimentos produtivos. O grosso dos empregos criados nos anos anteriores foi de baixa qualificação, que é algo próprio do comércio e serviços – muito sensíveis a variações da demanda interna. Os investimentos públicos e privados foram pífios. Não houve geração de empregos em construção, em infraestrutura e no setor industrial. Os empregos de hoje dependem dos investimentos de ontem, o que não houve. Daí o desemprego e informalidade atuais.
Negócios: Quem são as pessoas e categorias mais afetadas pela onda atual de demissões?
Pastore: Os mais afetados são os trabalhadores de menor qualificação. São aqueles que, nos anos de pleno emprego, foram muito demandados nas atividades mais simples do comércio e dos serviços. O Brasil destruiu 1,3 milhão de empregos formais nos últimos 12 meses e fez subir a taxa de desemprego de 6,9% em 2014 para 8,5% em 2015. No total, são quase 9 milhões de brasileiros desempregados.
Negócios: Na sua opinião, até onde a crise chegará? Quando iremos bater no teto?
Pastore: Penso que fecharemos este ano com uma taxa de 9% e abriremos o ano de 2016 com 9,5%, podendo chegar a 10%. Nesse caso, serão mais de 10 milhões de desempregados.
Negócios: Como superar a eterna barreira do apagão da mão-de-obra? Estamos qualificando nossos profissionais da forma mais adequada?
Pastore: São muitas medidas a serem tomadas no campo da educação em geral e da qualificação do profissional em particular. O Sistema S (grupo formado por Senai, Sesc, Sesi e Senac) é bom, mas não pode atender sozinho todas as necessidades do Brasil. O Pronatec teve grandes cortes de recursos e de atividades profissionalizantes. O ensino geral precisa ser muito melhorado, pois é a base para uma boa formação profissional.
Negócios: Por que a produtividade do trabalhador brasileiro ainda é menor do que em diversas partes do mundo?
Pastore: Vários fatores afetam a produtividade: investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento, inovações tecnológicas, boa administração das empresas, infraestrutura eficiente e educação de boa qualidade para os trabalhadores. Além disso, é importante ter do lado empresarial bons negociadores e que sejam capazes de fazer trocas em torno da produtividade nas datas-base, que é quando se renovam os acordos e convenções coletivas. A grande maioria ainda não estimula esse tipo de troca.
Negócios: Quais setores tendem a gerar mais – e menos – empregos no futuro?
Pastore: Por força das tecnologias, a indústria e a agricultura tendem a enxugar mais, enquanto que o comércio e os serviços tendem a ampliar os empregos. Mesmo nesses setores, porém, muitas novas tecnologias substituem trabalhadores. A grande mudança é na natureza do trabalho. Estão surgindo novas demandas por mais conhecimento, versatilidade, flexibilidade, capacidade de trabalhar em grupo e conhecimento de idiomas, por exemplo.
Fonte: Época Negócios, 14/12/2015
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