Uma das piores formas de Solidão que a presidente Dilma Rousseff poderia experimentar no seu dia a dia atual é a companhia de certos ministros do seu governo. Quantos e quais? É difícil fazer uma lista precisa, nome a nome, diante do claro risco de deixar de fora muita gente que deveria estar dentro, mesmo porque quase ninguém é capaz de recitar, assim de cabeça, a relação completa dos 38 cidadãos que formam o ministério. Mas não é preciso nenhum grande esforço para ver que um presidente da República, e mais um bocado de gente, teria bem pouca coisa a conversar com a maioria deles. Entende-se, assim, a preferência de Dilma por ficar trancada no seu gabinete, mexendo em computador, examinando planilhas em Excel ou lendo arquivos em PDF. Conversar o quê? Em sete meses de governo, três ministros já foram postos na rua, dois deles em meio a escândalos de primeira linha e o terceiro por manifestar em público seu desprezo pela equipe da qual fazia parte. Uma ministra foi descrita por ele como “fraquinha” e outra como alguém que nem sequer sabe direito onde está; nos dois casos, ninguém mostrou ânimo para discordar das apreciações.
Há ministros com os quais Dilma, simplesmente, não conversou uma única vez desde que assumiu a Presidência – não para algum despacho que possa ser descrito como sério. De novo, o impulso é de simpatizar com a solidão da presidente. Quem conseguiria, por exemplo, ter uma conversa útil com o ministro da Pesca? Com diversos de seus colegas, além disso, é claramente desaconselhável qualquer contato mais próximo. O ministro da Agricultura, para ficar no caso mais assustador do momento, é um barril de pólvora ambulante. Em seu redor “só dá ladrão”, como disse outro dia um peso-pesado do ministério, demitido na sequência de uma feia história de pagamento a empresas-laranja; na semana passada, foi para o espaço outro “homem forte” da sua equipe, por suspeita de receber propinas. Sabe-se lá onde vai parar isso tudo – um sinal alarmante, em todo caso, é que o ministro recebeu a “confiança” da presidente, a mesma distinção conferida aos três colegas demitidos até agora. E o ministro do Turismo, então – como conviver com alguém que nas vésperas de tomar posse foi pego em flagrante pagando uma conta de motel com dinheiro público? Não podia dar certo, e não deu: na semana passada, igualmente, a Polícia Federal prendeu o número 2 do ministério, no meio de um rapa que colocou na cadeia quase quarenta elementos ligados à área.
Há, também, toda uma penca de ministros que não estão, pelo menos até agora, sob suspeita de infração ao Código Penal; em compensação, não servem para nada, ou ainda não conseguiram demonstrar com clareza para que poderiam servir. Não se vê bem, nesses casos, onde a presidente da República poderia arrumar paciência para ficar ouvindo durante uma hora inteira, ou mesmo uma boa meia hora, o que teriam a dizer gigantes da administração pública como os ministros dos Portos, da Igualdade Racial, dos Assuntos Estratégicos e outros da mesma relevância. É preciso notar, enfim, a questão do temperamento e do estilo da presidente. Fica difícil, falando francamente, imaginar que Dilma tenha vontade de discutir política econômica com o ministro Guido Mantega, da Fazenda, ou debater estratégias energéticas com o ministro Edison Lobão, das Minas e Energia; antes mesmo de tomar posse, ela já deu demonstrações claras de que nesses assuntos, para o bem ou para o mal, confia mais no seu próprio taco. Sobra pouco, como se vê. Talvez seja isso “a solidão” do Planalto Central, da qual nos falava o ex-presidente Juscelino Kubitschek. Deve ser.
O que a presidente poderia fazer com esses seus ministros? É um enigma. Livrar-se de todos eles, já, e recomeçar do zero? Não seria tarde demais; afinal, Dilma ainda tem pela frente sete oitavos do seu mandato. Mas, na vida real, não é prático. Ir aos poucos, conforme os escândalos forem aparecendo? Também é problemático. O risco, com todas as bombas-relógio que estão armadas à sua volta, é passar o governo inteiro mexendo no ministério – como tem ocorrido, por sinal, até agora. Não fazer nada? Em geral é a melhor solução, quando não se sabe o que fazer. Infelizmente não parece ser viável, com a quantidade, o apetite e a ousadia das quadrilhas que hoje controlam espaços tão numerosos da administração. Elas vão continuar em atividade – e desse jeito fica difícil não demitir mais ninguém durante os próximos três anos e meio.
Vida dura, com certeza.
Fonte: revista Veja
esse texto é muito bom para a gente ver a vida de Dilma e dos ministros