As notícias não são boas se o tema for a violência contra jornalistas e comunicadores. Na Copa do Mundo na Rússia, mulheres jornalistas foram assediadas no exercício da profissão; em Annapolis (Maryland), nos EUA, 5 pessoas foram mortas por um atirador que invadiu a redação do jornal “Capital Gazette”. No Brasil, as hostilidades se sucedem. Exemplos recentes: os ataques sofridos pelas empresas de checagem de notícias; as ameaças aos jornalistas da “Revista Época” que denunciaram sites responsáveis pela produção de fake news (notícias falsas) e a espantosa marca de 3 comunicadores assassinados somente de janeiro para cá. O último, Jairo Sousa, foi morto a tiros no dia 21 de junho, quando chegava na emissora de rádio em que trabalhava na cidade de Bragança, no Pará.
É uma situação paradoxal. Ao mesmo tempo que nunca se precisou tanto do jornalismo profissional e do culto aos fatos em consequência do fenômeno da desinformação que corre nas redes sociais, nunca a imprensa e os profissionais que nela trabalham sofreram tantos ataques. E os indicadores parecem apontar o motivo: as reações violentas são típicas da falta de argumentos, do efeito do fenômeno que os psicólogos definem como “desinibição on-line”, da certeza da impunidade e, principalmente, da falta de entendimento da função da imprensa.
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O papel maior do jornalista, em qualquer veículo ou mídia em que ele esteja, é separar o joio do trigo e publicar o joio. Em outras palavras, fiscalizar o poder, denunciar, publicar aquilo que não é desejável ou elogioso. Isto, evidentemente, irrita. Provoca exposição pública pelo ângulo negativo. Destrói reputações construídas artificialmente. Corroí a confiança. O inventário de consequência é extenso. Nada, porém, justifica a violência contra o jornalista. Ou contra quem quer que seja.
Contra uma notícia, por mais negativa que seja, só há um caminho para responder: a argumentação sustentada em fatos. Matar, ameaçar, intimidar e seus sucedâneos, são recursos que, em qualquer situação, nada resolvem e só comunicam desespero. Espelham a irrealidade. Estão fora do lugar. Tem sido assim no passado, é assim no presente, será assim no futuro.
A violência é uma enfermidade. O público não aceita a violência e se insurge contra os violentos. Não importa quem sejam. O público quer paz.
+ de Patrícia Blanco: Uma nova ameaça à liberdade de imprensa?
No Brasil, estamos há três décadas com a liberdade de expressão assegurada pela Constituição. É o período mais longo de liberdade vivido na história do país. Toda a geração de jovens foi criada sob o signo da ausência de censura e da liberdade. É uma realidade das mais promissoras.
O desafio da atualidade é levar a liberdade à prática. Tirá-la da Constituição e exerce-la cotidianamente. Vence-lo não é uma utopia. Daí, ser preciso não transigir com a violência e intolerância. E entender que as liberdades de expressão e de imprensa vieram para ficar, além de serem indissociáveis da democracia. Daí, não ser possível esquecer os valores Iluministas. O principal deles é a liberdade. Que se torne uma prática, um hábito, uma tradição.
Fonte: “Instituto Palavra Aberta”, 11/07/2018