Depois de ser recebido com simpatia por chefes de Estado e de governo, o presidente Luiz Inácio, ou por iniciativa própria, ou por sugestão de seus altos assessores, passando de pato a ganso, lançou-se ao cimo dos patamares diplomáticos; logo chamou a atenção, em vez de exercer sua influência como presidente do Brasil, no sentido de compor conflitos entre nações vizinhas, ignorando-os, jogou-se a pretender modelar questões em terras da Ásia e África, começando a oferecer préstimos a palestinos e israelenses, o que, em matéria de jactância, era o nec plus ultra, e terminando sua escalada em associar-se ao Irã; ora, além de componentes históricos de notória complexidade, o país vive sob o império dos aiatolás; como se não bastasse a temeridade, tomando o rumo da Guiné Setentrional, colocou o Brasil no plano daquele país, dominado por ditador trintenário, possuidor de fortuna miliardária em contraste com a população miserável. Voltando ao Irã, o país pegou com as duas mãos a tolice brasileira, pois nada tinha a perder e tudo a ganhar, principalmente em suas aventuras nucleares e junto à ONU. Valia a pena relembrar esses fatos uma vez que…
… aconteceu nas bandas do companheiro Ahmadinejad outro fato revelador da tontaria cometida pelo governo brasileiro em seus experimentos diplomáticos. Uma mulher de 43 anos, com dois filhos, é acusada de adultério. Resultou a acusação em 99 chibatadas. Depois, subitamente, foi acusada de haver morto seu marido; inocentada dessa imputação, teve revisto processo por adultério e aplicada nova condenação, desta vez aprimorada com a pena capital. Seu advogado, contra o qual fora emitido mandado de prisão, evadiu-se do país. A morte por apedrejamento pode ser cumprida a qualquer momento, ainda que 11 pessoas aguardem a execução, sete das quais mulheres. Os homens são enterrados até a cintura, enquanto as mulheres até o peito, de modo a ficarem com os braços imobilizados. As pedras a serem jogadas sobre as vítimas não devem ser grandes para que o sofrimento seja maior, antes da morte. Como se vê, um delicado refinamento. Segundo divulgado, o apedrejamento foi introduzido no Irã em 1979, depois da revolução islâmica, sob o governo do companheiro Ahmadinejad. Agora, por obra de entidades internacionais, essa modalidade de execução penal, em face da repercussão mundial, parece que pode ser substituída pelo… enforcamento. Como se vê, uma equitativa concessão!
O movimento chegou ao Brasil e houve quem pretendesse que o presidente Luiz Inácio, na qualidade de amigo e companheiro de Ahmadinejad, intercedesse em favor da condenada, que, antes, pelo mesmo fato, já fora condenada a 99 chibatadas, regularmente cumpridas, 99. Mas o presidente, como procedera em relação aos presos políticos cubanos, no dia em que Orlando Zapata morrera, em razão de greve que se prolongara por 85 dias, se recusou em palavras inapagáveis, se começarem a desobedecer às leis deles para atender ao pedido de presidentes, daqui a pouco vira uma avacalhação.
Mas parece que alguém observou que se tratava de uma mulher e a candidata oficial da casa é mulher e isto lhe poderia ser funesto. Seja por fás ou por nefas, em comício no Paraná, o presidente teria sugerido ao seu companheiro islâmico que exilasse a suposta adúltera com seus filhos para o Brasil…
O alvitre brasileiro desagradou ao islâmico, que, pelo porta-voz do Ministério do Exterior, aplicou ao colega brasileiro boa e pública palmatoada por manifestar-se sem conhecimento de causa e sob influência de mídia estrangeira.
Muita coisa haveria a dizer diante dessa macabra operação, mas limitar-me-ei apenas a uma observação. Foi para associar-se a esse país que o festejado presidente brasileiro se lançou ao mar alto da diplomacia levando consigo o bom nome do Brasil.
Haja avacalhação nisso tudo, para repetir a elegante expressão presidencial.
Fonte: Jornal “Zero Hora” – 09/08/10
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