A surpreendente e impressionante vitória do Partido Conservador no Reino Unido é relevante na conjuntura político-econômica europeia e global.
O governo conservador de David Cameron teve sucesso em sua estratégia de ajuste do setor público via cortes drásticos de despesas e reformas para aumentar a produtividade da economia.
Na busca de equilíbrio fiscal, os conservadores têm tido particular cuidado em evitar aumento de impostos, principalmente os que prejudicam a produtividade, lição importante ao Brasil neste momento.
O Reino Unido hoje cresce a taxas superiores à média europeia e, em alguns momentos, até às taxas dos EUA. O país é exemplo de recuperação e de reformas pró-competitividade. Seu sucesso contraria a visão de que contenções fiscais são meramente recessivas e criam ciclo vicioso de baixo crescimento e baixa arrecadação.
Londres mostrou claramente que cortes de despesas bem feitos e reformas geram importante choque de confiança, que geram investimentos, que geram crescimento e empregos. Geram também, como vimos, grandes triunfos eleitorais.
Apesar do crescimento econômico, as pesquisas indicavam que os britânicos andavam insatisfeitos. Analistas afirmavam que o mais importante para os eleitores não seria a economia (como na célebre frase do marqueteiro americano: “é a economia, estúpido”), mas a sensação de bem-estar da população.
[su_quote]Um governo que administra bem a economia, entrega o que promete e mantém coerência na sua linha de ação pode ganhar eleições[/su_quote]
Nessa linha, os trabalhistas tinham abandonado a posição de centro adotada pelo ex-premiê Tony Blair e voltado a assumir bandeiras populistas, com foco no aumento de benefícios do Estado. Até o dia do pleito, as pesquisas apontavam empate entre trabalhistas e conservadores e pareciam corroborar essa guinada.
Mas os resultados eleitorais soterraram essas análises, mostrando que, mesmo que sua renda ainda não tenha aumentado de forma significativa, a população está muito atenta ao desempenho macroeconômico e à capacidade de cada partido de administrar bem o país num mundo globalizado e competitivo.
Assim, optou claramente pelos conservadores e seu ajuste econômico, apostando no aumento de renda que o crescimento econômico traz.
Nas eleições anteriores, em 2010, os conservadores se elegeram com uma campanha que propunha ajuste fiscal e reformas econômicas, o que entregaram durante seu mandato, e agora colhem nas urnas os frutos de sua coerência.
Mais uma vez, prevalece a força dos fatos: um governo que administra bem a economia, entrega o que promete e mantém coerência na sua linha de ação, mesmo com políticas aparentemente impopulares, pode ganhar eleições.
O eleitor algumas vezes é mais sábio do que esperam os políticos.
Fonte: Folha de São Paulo, 10/5/2015
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