Fui um leitor precoce: desde os cinco anos lia de tudo!
Eu tinha oito quando inadvertidamente li trechos do Apocalipse de João, numa dessas revistas vendidas de porta em porta, daquelas que se você não comprar já está automaticamente “condenado”.
As alegorias descritas pelo apóstolo fizeram um belo estrago em minha mente infantil, e toda noite, por um longo período, eu ficava olhando para o céu: cada pequeno clarão parecia o início do fim…
Filmes, professores neuróticos e cada um dos que eu atendia à porta, anunciando o Armagedom para uma criança que mal havia começado a viver e entender o mundo, só pioraram a situação. Esse medo também ocupou boa parte de minha adolescência, até que um dia eu resolvi ler a Bíblia inteira:
Comecei a perceber que tudo o que eu havia ouvido ou lido antes eram fragmentos, muitas vezes descontextualizados e interpretados tendenciosamente, por vezes maliciosamente. Também passei a observar que a maioria dos que insistiam em abordagens dramáticas do tema estavam enriquecendo com isso.
Faz sentido, pois o medo é uma forma elementar de educar: o temor de apanhar evita que crianças mexam em tomadas de energia, por exemplo. Em suma, é um expediente pode ser usado ou como forma de proteção ou contenção de instintos elementares, quando a racionalidade ainda está pouco desenvolvia ou definitivamente comprometida. Mas existem outros meios para isso, só que demandam mais tempo e, principalmente, bons exemplos. Afora isso, doutrinar pelo medo torna-se uma maneira bastante objetiva de comprometer a capacidade de discernimento do ser humano. E dá-lhe regras e proibições!
Nesse sentido, o medo é irmão do preconceito que, juntos, são fermentos da estupidez e do fanatismo que mantêm o mundo em constante conflito. Vira, então, um poderoso instrumento de dominação de poucos sobre muitos, tão ou mais violento do que a tortura física.
Tem gente que vive com medo, do medo, pelo medo e para o medo. Medo do que foi; medo do que é; medo do que poderá ser; medo pessoal ou coletivo… E depois de viver a vida inteira assim, descobre que simplesmente não viveu, e que não havia nada de mal em viver sem a maioria desses medos. Talvez tivesse sido um ser humano melhor se tivesse todos por irmãos, e não apenas alguns. Mas, esses são os que ainda têm um súbito lampejo de sabedoria tardia. Mas também há os que semeiam o medo até o último suspiro, e fazem disso sua principal herança.
Viver com medo é morrer em vida, desprezando esse divino dom. E como tem gente disposta a “matar” gente em vida, usando o medo para tirar máximo proveito material das fragilidades humanas! Pior ainda são os que ditam regras que não seguem; pregam igualdade, mas se acham superiores, intangíveis; condenam e humilham aqueles que ameaçam seu poder.
Isso, sim, é o fim do mundo!
Viver com prudência, sabedoria, inteligência e alegria; buscar a felicidade pessoal e dos que amamos, sem prejudicar o próximo; e ter consciência de que todos somos filhos de Deus, independentemente de todos os preconceitos e ódios que muitos dos que falam em seu nome absurdamente disseminam.
É preciso aprender a viver em paz, feliz e sem medo! Pois, só Deus sabe o que há de vir e quando há de vir!
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