O empreendedor tem um comportamento similar ao de um animal na busca da caça. Está sempre inquieto, procurando novas oportunidades. Esse estado de atenção constante é essencial para o êxito de um negócio. É isso que o faz correr riscos, mobilizar pessoas e recursos e lançar-se em um novo empreendimento, buscando construir o seu sonho.
O Brasil, sem dúvida, possui um grande número de empreendedores, que buscam na construção de novos negócios a esperança de crescimento e realização profissional. Isso se deve, principalmente, à limitação das oportunidades no mercado de trabalho, à criatividade de nosso povo e à ampliação do acesso a informação e a tecnologias. Porém, também sabemos que a maioria deles fracassa em seus primeiros anos de trabalho. Por que isso ocorre?
Certamente, a dificuldade de empreender possui raízes na História. A sociedade foi desenvolvida, em grande parte, a partir do conceito da subordinação, estabelecendo o seu funcionamento de acordo com uma ordem central. Isso vale, até hoje, para escolas, universidades, igrejas, exército, entre outros. Criamos poucos líderes e muitos subordinados.
O reflexo disso é o baixo estímulo a uma atitude empreendedora, que se vislumbra, por exemplo, na limitada interação entre universidades e empresas no Brasil. Os bons resultados obtidos por pesquisadores brasileiros, muitas vezes, não ganham aplicações comerciais por falta de entendimento entre os dois lados. Em nações mais desenvolvidas, que conseguiram superar essa barreira cultural, a pesquisa, inclusive a científica, é orientada para objetivos vinculados ao desenvolvimento econômico e social.
Somem-se a essa herança cultural os conhecidos problemas estruturais que barram o empreendedorismo no Brasil. É muito difícil criar ou fechar uma empresa, assim como enfrentar a burocracia vigente, que mata as atitudes empreendedoras, desestimulando investimentos. Existem, entretanto, iniciativas positivas, como o Simples, sistema tributário para micro e pequenas empresas que unifica e reduz o pagamento de impostos. Além disso, há bons projetos financiados pela iniciativa privada, como a Junior Achievement, que estimula o empreendedorismo em estudantes do Ensino Médio. Em 26 anos de existência, a organização já sensibilizou 1,6 milhão de jovens sobre o mundo dos negócios e as vantagens da atividade empreendedora para a sociedade. Também merecem destaque trabalhos como o do Instituto Endeavor, no apoio a novos empreendedores, e as iniciativas do Movimento Brasil Competitivo e do Sebrae, com programas de melhoria de gestão para micro e pequenas empresas.
Para que o Brasil prospere, precisamos estimular o espírito empreendedor ao máximo. Qualquer ação que traga desenvolvimento e gere empregos e renda deve ser incentivada. O primeiro passo é que cada um de nós avalie o seu comportamento no dia a dia, com filhos e netos, assim como atue fortemente para gerar mais mudança na ação dos governos, principalmente em prol do incentivo às micro e pequenas empresas. Afinal, o empreendedor é um dos principais agentes sociais de qualquer nação. Ao correr riscos, ele promove o desenvolvimento, beneficiando toda a sociedade. E é essa atitude que devemos praticar e estimular desde cedo em nossos jovens.
(Zero Hora, 16/05/2009)
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