Mesmo com o debate político polarizado dos últimos anos, no qual apenas os extremos são evidenciados, é impossível negarmos o protagonismo do chamado “centrão”, um grupo de 170 a 220 deputados, dos mais diversos partidos que, juntos, são capazes de decidir votações no legislativo, especialmente na Câmara dos Deputados.
Atualmente, o termo centrão é associado por muitos à “velha política”, já que em sua composição há diversos partidos e representantes envolvidos em escândalos de barganhas por cargos no governo e interesses próprios.
O especialista em Relações Institucionais, Governamentais & Public Affairs, Fábio Saboya, conta que nem sempre foi assim. O termo é utilizado desde o fim da década de 80 e surgiu para designar os parlamentares que buscavam uma representação de assuntos relativos à ordem econômica, alinhados ao pensamento liberal, como direito de propriedade e política agrícola. Ouça o podcast!
“O centrão surgiu em setembro de 1987, durante a Assembleia Nacional Constituinte, quando a estrutura do rito e do regimento para a votação das matérias da Constituinte foram questionadas por um grupo que estava se organizando para defender os pontos do pensamento liberal no setor econômico”, disse.
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A deturpação do significado do bloco surgiu durante uma votação no Congresso. Os representantes do centrão votaram a favor do presidencialismo, pauta defendida pelo então Presidente do Brasil, José Sarney.
“A Folha de S. Paulo fez uma manchete dizendo que o centrão deu a vitória à Sarney depois de muitas negociatas e nomeações. A partir daí o termo é atribuído à uma maioria eventual que negocia em bloco a sua posição em votação no Congresso Nacional com os interesses do governo. Diferente de sua origem, virou um grupo governista”, contou.
Voto distrital
A democracia e o sistema eleitoral evoluíram muito ao longo dos anos no Brasil, mas a distância dos representantes com sua base eleitoral permite a manutenção da política de “compadrismo”, dos favores, e, consequentemente, a constante reeleição de pessoas que não estão preocupadas com os interesses da população.
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Como forma de solucionar esse problema, Fábio aponta o voto distrital, sistema em que a eleição de representantes do legislativo é feita pela maioria dos votos dos eleitores de distritos eleitorais menores. Por exemplo, se um estado hoje tem 50 deputados federais, eleitos por votos de um estado inteiro, com o voto distrital, esse estado seria dividido em 50 distritos e cada distrito elegeria o seu deputado.
“O voto distrital, é a melhor solução, porque prende o político à base política dele. A escola e o hospital, que o político vai usar para o filho dele, é a mesma do eleitor”, ressaltou.
Centro x Centrão
Apesar do nome, centro e centrão não são a mesma coisa. Enquanto o centrão hoje é o grupo que barganha com o governo, o centro é o bloco que foge do radicalismo dos extremos e procura tratar os debates de forma mais racional.
“Eu vejo totalmente diferente o que é centro e o que é centrão. As estatísticas mostram realmente que os partidos de centro, como o DEM, têm boa parte dos seus congressistas que são parte do centrão, mas o partido em si não é parte”, pontuou.
Eleições 2022
Com o avanço dos partidos de centro nas eleições municipais de 2020, os especialistas especulam se o resultado pode refletir um pouco como serão as eleições em 2022. Fábio explica que esse movimento é fruto da polarização política dos últimos anos e acredita que o centro será de fato vitorioso.
“Vamos ter uma eleição onde eu acredito que o centro, que defino hoje como anti-esquerda e anti-direita, tenha ainda entre 60, 50% pelo menos, para ser trilhado. Eu acredito em um outsider, e não acredito em apresentador de televisão, mesmo com toda a boa intenção que ele tenha, ou em governadores”, destacou.
O especialista também reforça que julho de 2022 será um momento decisivo, quando a economia estará mais estável e será possível que candidatos decolem com a boa fase.
“Provavelmente todos terão sido vacinados e já tenhamos o fim do auxílio emergencial. O mundo viverá, entre 2022 e 2023, um momento de prosperidade econômica nunca vista, até mesmo em função da recuperação do período de crise – isso é um dado do Banco Mundial -. Então, é muito fácil surfar em uma onda com dinheiro, com investimento, etc. Será preciso estar muito atento”, observou.
A democracia é o melhor sistema de governo que conhecemos, e para que ela de fato funcione é preciso que cada um assuma suas responsabilidades. A nossa, enquanto cidadãos, é votar de forma consciente, em quem melhor representa nossas ideias e valores, e constantemente fiscalizar e esses representantes eleitos.
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