Se há aproximadamente um ano “Qual a senha do Wi-fi?” era a frase que representava nossa intensa inserção no mundo digital, especialmente nas redes sociais, hoje, com a pandemia e o avanço estimado de 10 anos no processo de digitalização, transferimos até os aspectos mais básicos de nossas vidas para a rede.
Home office, compras online, EAD, telemedicina e internet banking, são apenas alguns dos serviços e das atividades digitais que estão crescendo e, por vezes, substituindo permanentemente seu correspondente presencial, seja pela praticidade ou redução de custos.
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Infelizmente, para todo bônus temos o ônus, e com a digitalização não foi diferente. O aumento da presença digital trouxe também um aumento dos chamados crimes cibernéticos, que são aqueles que só são possíveis porque um determinado sistema está digitalmente conectado, como a invasão de uma base de dados. Também se enquadram nesse tipo de fraude, delitos que já existiam, mas foram potencializados pela internet. Infelizmente, um exemplo comum dessa segunda definição, é a pornografia de vingança.
“Um casal tirava fotos juntos, íntimas. De repente, quando o relacionamento termina uma das partes torna público aquele material que era restrito só aos dois. Antigamente, se fazia isso por carta, pelos correios, o que era certamente mais custoso e demorado. Agora, quando essas imagens viralizam, por comunicadores instantâneos, como o WhatsApp, o tamanho do impacto e do dano é muito maior”, explicou Domingo Montanaro, perito em TI, sócio e diretor da Ventura ERM e Ventura Academy. Ouça o podcast!
Assim como no mundo offline, o combate ao crime cibernético enfrenta muitos desafios. Os principais são a falta de denúncia e de estruturas para investigação e resolução da maior parte dos casos.
Uma pesquisa realizada pelo laboratório digital da startup PSafe constatou que em 2020, aproximadamente, 3 milhões de brasileiros tiveram sua conta no WhatsApp clonada. O procedimento padrão para esse tipo de fraude é registrar um boletim de ocorrência, mas de acordo com Domingo não é o que acontece, seja por desconhecimento, falta de confiança na ação policial ou medo de retaliações.
“Como é um ambiente novo, mesmo existindo pessoas que já estão incluídas digitalmente há 20 anos, ainda há uma grande parcela da população que está entrando nisso agora. Da mesma forma que acreditam em fake news, e as disseminam mesmo sem entender muito bem o que está acontecendo, muita gente acaba sofrendo um delito desses e nem sabe direito o que houve”, disse.
A questão da falta de crença nas forças policiais está diretamente relacionada à falta de estruturas do Brasil para o combate da criminalidade. Conforme dados oficiais da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública, não mais que 6% dos casos de homicídios dolosos (com intenção de matar) são solucionados em nosso país. Imagine então a porcentagem para crimes cibernéticos…
Quando olhamos para os órgãos federais, da polícia ao Ministério Público, o perito em TI aponta que houve uma melhora significativa nos últimos anos, já no caso das instituições estaduais, ainda temos um longo caminho.
“Quando falamos de estrutura, falamos de tecnologia, mas também de pessoas e de processos. Lembrando que muitos policiais que vão trabalhar em delegacias especializadas, não tem o treinamento nem ferramentas adequadas, e não sabem direito quais são os processos necessários para aquela atividade fim. Vemos nas delegacias estaduais, alguns guerreiros que, sem recurso nenhum, conseguem ainda dar resultado nos casos mais prioritários. Mas, obviamente, muita coisa passa. Mais de 90% dos casos passam sem estar apurado e efetivamente responsabilizado pelas forças policiais”, destacou.
Eleições 2020
O atraso no site do Tribunal Superior Eleitoral – TSE no dia 15 de novembro de 2020, data do primeiro turno das eleições municipais, foi amplamente noticiado pela imprensa como uma possível tentativa de ataque cibernético.
Domingo Montanaro explica que se tratou de um caso de negação de serviço [tentativa de tirar o site do ar], o que é muito comum de acontecer contra sistemas públicos, que já estão acostumados a tratar esse tipo de incidente.
“O que se viu naquele dia foi um ataque que foi contra apenas a disponibilidade do site. Pelo que foi reportado, o sistema em si de votação não teria sido afetado, já que, em tese, não está conectado e nem é dependente da internet. Não parece que houve algum tipo de intrusão, como apagar ou mexer na integridade dos dados, muito menos a divulgar a confidencialidade”, esclareceu.
Cyber Higiene
Quanto maior a digitalização, maior deve ser o nosso cuidado e cautela em utilizar todas as comodidades e conforto que a tecnologia oferece. A cyber higiene, ou seja, a utilização consciente e responsável, prezando pela segurança da comunidade, nunca foi tão necessária.
“Segurança para todos está relacionada à responsabilidade de disseminar notícias que não foram verificadas, as fake news. Vivemos em uma época muito difícil para isso, principalmente com esse confinamento, e essa loucura que a pandemia nos trouxe”, alertou.
Além do compartilhamento inconsequente de informações, o cuidado ao clicar em links desconhecidos, promoções mirabolantes, atender chamadas suspeitas e todas as pequenas coisas com as quais somos bombardeados diariamente, faz parte da nossa responsabilidade individual.
Ao racionalizar nosso próprio comportamento no mundo virtual estaremos protegendo não só a nós, mas toda nossa comunidade. Em nossa Página Cidadania temos um link para delegacias especializadas em crimes virtuais, presentes em 6 cidades brasileiras. Acesse e saiba mais.